Discos e escavações grandes…significam necessàriamente presença de glaucoma?

“Tenho 27 anos e sempre sofri com olho seco e sempre procurei oftalmologistas para acompanhar meu problema e buscar colírios que me ajudassem a melhorar a secura. Em um consulta com determinada médica, ela disse que identificou meu nervo ótico maior do que o habitual e me orientou a fazer exames. De fato, a foto do meu nervo mostrou que ambos têm uma escavação grande com 0,7 em ambos os olhos, porém, como na campimetria não houve sinal de perda de campo visual e as escavações em ambos os olhos eram simétricas, ela me orientou que essa escavação maior, poderia ser algo de nascença, mas que eu deveria fazer acompanhamento, pois como eu não tinha um exame anterior para comparar, não da pra ter certeza se a escavação aumentou nos últimos anos ou se nasci com ela maior. Exames para detectar o glaucoma foram feitos, mas não detectaram a presença da doença. Porém, por sentir muitas dores nos olhos, outra médica me indicou fazer o exame de curva de pressão ocular, que identifica o glaucoma de forma mais eficiente. Não tenho o resultado ainda, mas tenho dúvida se o fato de ter uma escavação maior, necessariamente indica que tenho perda do nervo ótico. Será que posso ter nascido assim mesmo, é comum isso? Se meu exame de curva tensional não identificar o glaucoma, quais cuidados devo ter com o nervo ótico? Se as minhas dores não forem relacionadas a glaucoma e sim, a secura, a escavação maior então, poderá ser concluída como algo natural dos meus olhos? Dor nos olhos é necessariamente glaucoma? Enfim, são muitas dúvidas e medos…”

 

O tamanho do disco óptico varia muito entre os indivíduos. Existem nervos pequenos, médios e grandes (assim como existem várias raças, brancos, negros, etc.). A escavação de um disco maior é diferente daquela do disco pequeno! Existe uma relação direta do diâmetro com a escavação. O que indica presença de anormalidade é a forma da escavação. Se as fibras nervosas (que compões o nervo óptico) estão reduzidas num dos polos da escavação (inferior, superior,nasal ou temporal) indica a provavel existencia de doença glaucomatosa. A essa relação entre os dois parâmetros da cabeça do nervo óptico (aspecto da escavação e tamanho do disco) se dá o nome de relação escavação/disco  (rel.E/D).

A análise sequencial comparativa é necessária para nos certificarmos de que ela (relação) está se modificando e com isso, sinalizando presença de doença glaucomatosa! Por isso fazemos retinografias (fotos do polo posterior do olho) comparativas. A essa análise damos o nome de foto-documentação dos discos ópticos, geralmente anual ou bianual, dependendo do caso.

Outros sinais mais sugestivos podem estar presentes e selam o diagnostico. E geralmente quando isso acontece, indicam doença glaucomatosa presente já há algum tempo.

Então respondendo à sua pergunta: não… uma escavação maior não significa que você tenha qualquer “perda de nervo óptico”! Assim como o fato de ser da raça branca não implica necessariamente em certeza de vir a ter câncer de pele! Um fator a mais de risco para a doença, sim! Mas apenas isso. Na estratificação de risco para doença glaucomatosa, por exemplo, é apenas um dos oito a dez (depende da abordagem que optamos por seguir…) fatores de risco conhecidos.

Quanto aos cuidados que deve ter com o nervo óptico: é sempre bom lembrar que a doença glaucomatosa indica falência na manutenção da higidez das fibras nervosas que ligam o olho ao cérebro, onde são processadas as imagens, ou seja, ao córtex visual.

De forma mais simples e fácil de entender, podemos dizer que o nervo óptico não está recebendo oxigênio e nutrientes necessários (suficientes) para manter seu pleno funcionamento! Como uma planta que não é aguada ou não é exposta aos recursos necessários à espécie para garantir a sobrevivência.

Portanto, entender, caso a caso, as razões para isso estar acontecendo, é necessário para listar benefícios de algumas estratégias possíveis. Caso a pressão dos olhos esteja muito alta, a redução medicamentosa dela (PIO) deverá se mostrar suficiente ao longo do tempo para estabilizar o nervo óptico e impedir a perda de fibras. Se a pressão não é alta (glaucoma de pressão normal ou baixa), a melhora dos fatores vasculares em cada caso é necessária para retardar ou impedir a perda de fibras nervosas (nervo óptico).

A doença glaucomatosa é multifatorial! E, aqui mais do que nunca, cada caso é um caso.

Se quiser saber mais sobre glaucoma, leia o post “A angústia da incerteza…eu tenho glaucoma?” no link https://elizabethnavarrete.com/2012/03/26/a-angustia-da-incerteza-eu-tenho-glaucoma/

 

Quanto a dor nos olhos ser, necessariamente, glaucoma… o que posso dizer é que o glaucoma é uma doença silenciosa, por isso nos preocupamos tanto em diagnosticá-la precocemente. O individuo não costuma ter sintomas. Existe dor (muito forte, aliás, que leva necessariamente o paciente à emergência de um hospital) apenas no glaucoma agudo! Que, apesar de ter o mesmo nome, é na verdade outra doença, de comportamento e características diversas do glaucoma crônico de ângulo aberto, conhecido simplesmente como glaucoma.

As estratégias para prevenir, minimizar ou ainda retardar a evolução da doença glaucomatosa seguem as mesmas diretrizes da doença vascular sistêmica: exercicio aeróbico para aumentar a capacidade de oxigenação dos tecidos do organismo e redução dos estímulos à vasoconstrição excessiva: redução do estresse,evitar excesso de cafeína, evitar abuso de drogas vasoconstritoras,etc

E, por ultimo (“last but not least”…) você fala em medo e dúvidas. No caso da doença, o medo existe quando ela, doença, nos é desconhecida. Para isso serve a informação, que deve ser utilizada no sentido de aprendermos a lidar de forma positiva com ela, identificando e evitando os fatores de risco. O conhecimento não deve estimular a hipocondria, o medo do diagnóstico. Isso seria mau uso da informação! E de nada serve a não ser aumentar o estresse e suas consequências negativas sobre toda e qualquer doença.

Espero que faça bom uso do conhecimento!

 

Abs,

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