O que é glaucoma de pressão normal?
Como se trata?
O sangue fornece oxigênio e nutrientes aos tecidos. As células são as menores unidades do nosso corpo que, agrupadas, formam os tecidos e órgãos e recebem o ali- mento através do sangue que chega até elas pelos capilares. Esses são vasos minúsculos formados por sucessivas ramificações a partir dos grandes vasos que saem do coração. Todos os vasos são regulados pelo sistema nervoso autônomo (SNA). Na medida certa da necessidade dos tecidos por eles irrigados, os vasos se dilatam ou contraem. Mas e- xistem casos em que a “desregulação” vascular pode dificultar o acesso de nutrientes aos tecidos. Estatisticamente existe uma maior dificuldade no controle da doença glaucomatosa em pacientes que apresentam sinais sistêmicos de controle circulatório inapropriado. Por isso migranea, hipertensão ou hipotensão arterial e diabetes são identificados como fatores de risco para o desenvolvimento do glaucoma.
Vamos voltar a falar um pouco sobre glaucoma de pressão normal (ou baixa).
Ainda no capitulo sobre glaucoma, é preciso esclarecer que ainda existe muita dificuldade em diagnosticar e tratar a neuropatia óptica isquêmica crônica progressiva (definição de glaucoma), que não cursa com aumento da pressão intra-ocular. Mas já conhecemos sobre a regulação vascular inapropriada e os danos à micro-circulação e conseqüentemente aos tecidos por ela irrigados.
O disco óptico (ou papila ou ainda “cabeça” do nervo óptico) é nutrido pelos ca- pilares derivados das artérias ciliares posteriores curtas. Em todas as patologias vas- culares que acometem o nervo óptico, sua perfusão (irrigação e nutrição) está compro- metida, seja de forma aguda ou crônica.
Então a observação atenta do nervo óptico (avaliação do disco óptico, seus bordos,sua escavação e busca de detalhes anatômicos característicos além da presença de hemorragia na superfície do disco) à fundoscopia (fundo de olho) é fundamental na determinação do paciente de risco para doença glaucomatosa, principalmente na ausência de hipertensão ocular.
E a monitorização do nervo (retinografias seriadas, exames de imagem do tipo HRT, GDX ou OCT) óptico é o que possibilita o diagnóstico de certeza e autoriza o tratamento do glaucoma de pressão normal. Este tipo de glaucoma (sem PIO elevada) nem sempre responde bem ao tratamento medicamentoso.
Muitas vezes é necessário o tratamento cirúrgico. No glaucoma de pressão normal (ou baixa), a dificuldade em reduzir a PIO é muitas vezes menor do que a tentativa de evitar os picos de pressão intra-ocular. Já foi comentado antes que, mais que o valor absoluto da PIO, a ausência de flutuação (subidas e descidas) dessa pressão é funda- mental para o controle da doença glaucomatosa. A perda campimétrica, além do risco da perda da visão de detalhes (visão central) é o resultado da incapacidade de manter baixa e equilibrada a PIO.
Portanto, nos casos de glaucoma de pressão normal, as cirurgias fistulizantes são indicadas mais precocemente do que no glaucoma primário de ângulo aberto (GPAA), o tipo mais comum.
Como nas outras formas de apresentação da doença glaucomatosa, nos glaucomas de pressão normal ou baixa a evolução também é bastante variável de paciente para paciente. Em alguns indivíduos ela é bem mais lenta: pelo menos 50% dos casos não apresentam progressão durante longos períodos. Mas, infelizmente alguns progridem muito rápidamente.
Um controle rígido é absolutamente necessário e fará toda diferença, contribuindo para que você chegue ao final da vida com a capacidade funcional preservada.
Seus olhos agradecem, desde já!
Mantenha sua doença sob controle. Lembre-se de que, como em toda doença crônica, o sucesso da terapêutica no glaucoma depende da fidelização ao tratamento. O comprometimento do paciente com sua saúde é um dos fatores mais importantes.
E não custa lembrar que o médico faz o diagnóstico, prescreve a medicação, solicita exames complementares, monitoriza a pressão e ainda assim, tudo isso não é suficiente em muitos casos. Aqui, mais do que nunca, a relação médico-paciente é fundamental na condução de cada caso. Na minha experiência, indivíduos com historia familiar de cegueira por glaucoma (especialmente mãe ou pai), têm uma fase de negação da doença. E às vezes, como acontece em doenças terminais, podem se seguir períodos de raiva, barganha e depressão, principalmente em casos de glaucoma de pressão normal.
Se não identificarmos este processo, mais tarde lamentaremos com eles, pacientes, o resultado. Indivíduos deprimidos, ou que moram sozinhos ou ainda cuidadores de doentes crônicos, (muitas das vezes estes mesmos parentes cegos) merecem atenção maior. Alguns devem ser orientados a buscar ajuda psicológica.
Cabe ao médico a iniciativa de um tratamento multidisciplinar, além de acompanhar os casos mais refratários com outros colegas oftalmologistas. O relacionamento de alguns desses pacientes pode ser melhor com outro médico e isso facilitar sua adesão ao tratamento. Uma vantagem adicional é a de que vários olhares diferentes podem sugerir estratégias melhor sucedidas. Casos difíceis em Medicina costumam ser difíceis para todos os médicos. Com esta abordagem, ganham tanto o paciente quanto o médico assistente.