Mês: julho 2012

Moscas volantes…como ajudar?

Num comentário a respeito do post  “ Moscas volantes…como lidar com elas?”, uma internauta me informou sobre a existência de um abaixo-assinado cuja finalidade é chamar atenção da comunidade médica para um sintoma muito comum (e não raras vezes muito inconveniente e causador de muito estresse para o indivíduo portador).

Ela disse:

“Estamos nos movimentando, para que as autoridades médicas encontrem uma solução para o nosso problema. Caso a interesse entre no site e assine o baixo assinado em http://www.moscavolante.com.br

Que o sintoma é mais comum do que imaginava eu, oftalmologista há pouco mais de 30 anos, concordo: os textos a respeito de “moscas volantes” e “flashes” são de longe, os mais acessados, desde a primeira postagem do blog!

Que muitos pacientes se sentem desamparados e desassistidos pelos seus médicos quando eles os informam de que “moscas volantes são muito comuns e você acaba se acostumando com elas…é só uma questão de tempo”, isso também é verdade: essa é uma crítica muito comum dos portadores de moscas volantes!

Alternativas a essa conduta foram descritas aqui no blog. Tanto pacientes quanto médicos devem estar conscientes das dificuldades que alguns de nós portadores temos em relação ao convívio e a superação de tão exasperante sintoma ocular.

Alternativa cirúrgica existe, mas deve ser a última opção por conta dos possíveis secundarismos (efeitos colaterais e/ou iatrogenias). A indicação do procedimento é feita apenas em casos escolhidos a dedo e não sem antes obter consentimento informado do paciente. A imprevisibilidade de melhora sem os tão temidos efeitos secundários a curto, médio e longo prazo é uma realidade. E ele, paciente, deve ser informado dos riscos e aceitá-los, dividindo a responsabilidade com quem irá tentar ajudá-lo.

Mas, até quando possível e tolerável, ninguém arrisca o certo pelo duvidoso, não é mesmo? Eu, pessoalmente já cogitei fazer a intervenção vítreo-retiniana nos piores dias do meu calvário ocular. Um DPV agudo há seis meses, com rotura retiniana tratada a laser e hemorragia vítrea deixaram como seqüela uma opacidade vítrea importante bem próxima ao meu eixo visual. Como disse antes, cogitei… Mas a fase de ansiedade e irritabilidade extrema deu lugar à resignação e entendimento de que poderia ter sido pior. E segui vivendo: dias melhores…e dias piores. Por que em relação às moscas volantes todos sabemos que dias estressantes significam “ver mais floaters”, sentir mais incomodo em relação à visão, aos olhos. Dias se seguem sem que nos incomodemos com qualquer manchinha na visão…não é mesmo? São dias felizes, por que estamos bem emocionalmente e o cérebro “anula”, “ignora” o que não é essencial. O que é “over”.

Em suma, o que quero dizer é que existem muitas outras patologias mais debilitantes, que reduzem bastante a visão e muitas vezes de inicio precoce, com redução importante da qualidade de vida do individuo. Dito isto, é compreensível que a atenção e agilidade da comunidade cientifica em ditar normas e soluções para doenças oculares priorizem esses pacientes.

Entendo que todo sintoma deve ser valorizado e que cada caso é um caso. Inclusive também pude, na qualidade de paciente, avaliar o quanto é incômoda e de pouca ajuda a fala do médico (“você vai se acostumar!” argh!!!!!) na tentativa de justificar a falta de intervenção curativa mais eficiente!

Mas vejo todos os dias quadros mais incapacitantes e graves, de prognóstico reservado e que impõem ao médico a sensação tão incomoda de impotência e ao paciente a tristeza e a dor da falta de esperança. Por tudo isso senti necessidade de dizer a você, leitor, que nós médicos precisamos priorizar algumas intervenções e pesquisas em detrimento de outras. A Medicina avançou muito nas últimas décadas, é verdade, mas muito ainda se precisa conhecer e aprender em relação à manutenção da saúde e da qualidade de vida em relação aos vários sistemas e órgãos do corpo humano.

Sejamos mais pacientes e menos ansiosos em relação a soluções imediatas e mantenhamos em mente que os avanços necessários estão acontecendo, cada um a seu tempo e na medida do possível!

Sei que às vezes as tais moscas volantes podem ser muito incapacitantes! O pior pesadelo que uns e outros podem ter vivido. Mas, acreditem, a seu tempo o desconforto fica mais tolerável se entendemos que quanto mais pacífica a convivência com os floaters, mais fácil a vida fica!

Nesse meio tempo os grupos de ajuda funcionam bem. Como para as outras doenças, a troca de informações ou mesmo um espaço para desabafar e “recarregar as baterias”, falando com quem vivencia as mesmas dificuldades, faz diferença: para melhor!

Por isso, parabenizo a iniciativa de criação de um blog sobre moscas volantes além de me solidarizar com aqueles que, como eu, ainda sentem a interferência desagradável desses floaters no dia a dia.

P.S.: Uma abordagem interessante sobre habituação em relação às moscas volantes (de forma semelhante ao que é proposto na habituação ao tambem desagradável sintoma que é o zumbido) voce encontra na leitura de um ebook disponivel na internet. O autor Mark Lorne explica por que alguns de nós não conseguimos evitar “ver” os floaters comuns a quase totalidade da população. E propõe algumas estratégias possiveis para a evitar a percepção deles. Um leigo interessado em ajudar outros individuos a conviver com moscas volantes. Mais ainda, ele identifica um perfil psicológico comum aos queixosos cronicos em relação às moscas volantes. Vale a pena ler e refletir a respeito!

O link:

http://www.noeyefloaters.com/index.htm

No blog  www.moscavolante.com.br  uma tradução livre do texto de Mark Lorne

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O médico, o paciente e a ansiedade do diagnóstico precoce!

Acertando mais ou errando menos?
Será que a ansiedade, tanto do médico quanto do paciente é benéfica ou atrapalha mais do que ajuda?

“Recentemente fiz alguns exames para afastar ou não o diagnóstico de glaucoma. Ainda vou saber os resultados. Espero que a médica seja precisa”…disse uma internauta em comentário a um texto no blog.

O texto é “Entendendo o glaucoma” e relata a dificuldade do diagnóstico fidedigno e a importância da assertividade dele, diagnostico, na evolução da doença e na saúde ocular futura do doente. Não deve haver tanta pressa no diagnóstico! Deve-se priorizar a ratificação dele por meio de monitorização clinica seqüencial em vez de, por causa da ansiedade do paciente e do médico, iniciar um tratamento “preventivo” (que de preventivo não tem nada..é tratamento e ponto final). Uma intervenção precoce que muitas vezes não é benéfica para o paciente, principalmente no longo prazo.

Melhor é ter paciência, sempre: devagar se vai ao longe, não é mesmo?

Além do mais, em doenças crônicas degenerativas como o glaucoma, o tempo está a nosso favor! Exceções existem claro. Mas cabe ao médico identificá-las e ser o mais honesto possível com cada paciente.
Cada caso é um caso, é sempre bom lembrar!

Em Medicina não existe certeza absoluta. A arte de curar não é uma ciência exata como a Matemática. Nós médicos bem que gostaríamos que fosse tão mais “fácil”! Mas não existe receita de bolo na prática clínica diária.

Cada paciente é único em sua individualidade bioquímica. E conseqüentemente na forma de apresentação da doença, no desenvolvimento de sintomas e na resposta terapêutica.

E isso é um processo dinâmico: muda a cada fase da vida do individuo.

Na relação médico-paciente nós identificamos o perfil de cada um e, na maioria das vezes, somos capazes de dar a cada um o que ele precisa, visando o entendimento possível do processo de adoecimento e a manutenção (sem estresse) do equilíbrio a ser alcançado para frear a progressão da doença.

A cada um dizemos o que ele pode entender (e ouvir). Como no dito popular, “ninguém carrega uma cruz maior do que a que pode suportar”. E isso deve fazer parte do oficio do médico: entender (e aprender a conhecer) cada paciente e dar a ele o que ele precisa (do ponto de vista físico, mental e emocional).

A Medicina pode ser muito gratificante!

E mais ainda, dá ao médico a oportunidade de experimentar o prazer que é poder contribuir para o bem estar do outro. Dito assim pode soar piegas, mas a Medicina é uma profissão que claramente ajuda o médico: ela facilita a imersão concreta no autoconhecimento, na dimensão espiritual do ser e como dizia o pai da Homeopatia, Samuel Hahnemman, ajuda o individuo a identificar e alcançar “os mais altos fins de sua existência”.