Mês: setembro 2011

A visão na catarata, na DMRI e no glaucoma…

 

No processo de envelhecimento, três situações de disfuncionalidade podem afetar nossa capacidade visual com maior freqüência: a catarata, a degeneração macular relacionada à idade e o glaucoma.

 

DIFICULDADE VER CATARATA

O cristalino é uma lente transparente que existe dentro do olho para aperfeiçoar a imagem, como os óculos, no caso dos indivíduos que precisam de correção para “melhorar” a imagem do que vêem. Na catarata esta lente se opacifica aos poucos e diminui a qualidade da visão.

 

VISÃO NA DMRI 2

Na degeneração macular relacionada à idade acontecem alterações bioquímicas e depois anatômicas e estruturais na área central da retina, que é a responsável pela visão de detalhes. A DMRI nos priva ou dificulta muitíssimo a leitura, a condução de um veículo ou o simples ato de ver televisão. A chamada visão central é a que define a imagem à nossa frente.

VISAO GLAUCOMA ESTAGIOS

Ao contrário, o glaucoma acomete a visão periférica e, com isso, cada vez mais vemos como através de um buraco que vai se estreitando. Normalmente, ao olharmos em frente, somos capazes de perceber objetos, coisas e pessoas que estão ao nosso lado, em todas as direções, sem que precisemos dirigir nossa atenção a elas. A chamada visão periférica vai se perdendo ao longo da doença glaucomatosa. Passamos a enxergar como se estivéssemos olhando através de um tubo, não percebendo o entorno. Em alguns casos, acaba acometendo também a visão central e leva à cegueira total.

 

Das três condições, a catarata é a única que é completamente reversível, com a cirurgia, quando ela estiver bem indicada. A DMRI ainda não tem tratamento eficiente, apenas tentamos manter pelo maior tempo possível a capacidade visual do paciente. Entretanto devemos, mais do que nunca, investir na prevenção. Quanto ao glaucoma, o tratamento pode manter o olho estável pelo tempo de vida do individuo. Mas é contínuo e “para sempre”. Mesmo que se opere, o que só é feito quando a medicação não é capaz de estabilizar a doença, o glaucoma continua evoluindo, embora mais lentamente. Todos os recursos são utilizados, tanto na DMRI quanto no glaucoma, para estabilizar a doença e retardar a perda visual central ou periférica, respectivamente.

 

Vamos investir mais na prevenção? Ainda é o melhor remédio!

 

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Óculos, por que e quando devemos usar?

Gostaria de comentar sobre a necessidade do uso dos óculos. Em linhas gerais, o míope é corrigido desde cedo pela incapacidade de compensar sua dificuldade sozinho. O hipermetrope é corrigido em criança quando o grau é alto, dificultando a qualidade e conforto visuais. Ou ainda quando apesar de ver muito bem o jovem apresenta queixas de dor de cabeça ou dificuldade na manutenção da atenção nas tarefas que exigem mais esforço acomodativo. Ou ainda (e principalmente) quando a criança é estrábica, ou seja, apresenta desvio dos olhos. Este desvio pode ser manifesto, percebido por todos ou ser diagnosticado apenas pelo profissional de saúde, durante exame oftalmológico.

O astigmatismo, se pequeno pode não “atrapalhar” a visão, mas se for causa de dor nos olhos, dor de cabeça ou outras queixas relacionadas com o  esforço visual deve ser corrigido.

Você sabia que de cem pessoas submetidas à avaliação em um aparelho que “mede o grau do olho” (auto-refrator) talvez menos de 5% seja emétrope? Lembre que emétrope significa não ter erro refracional nenhum (zero). Esta condição é praticamente inexistente se levarmos em consideração qualquer mínimo valor de ametropia (grau).

Então se fossemos prescrever óculos baseados apenas no valor encontrado na mensuração do “defeito” do olho, quase todos nós usaríamos óculos desde jovens. Mal comparando, é como chamar uma criança de anã porque ela não tem altura e proporcionalidade de um adulto. Ela apenas está em desenvolvimento, ainda.

Da mesma forma, o olho está se desenvolvendo e devemos deixar o organismo se encarregar dos ajustes necessários e intervir apenas quando realmente for preciso.

Cada caso é um caso e em todos eles, devem ser muito bem avaliadas as variáveis antes de determinarmos uma correção óptica. O “grau do olho” não é algo que necessariamente deva ser corrigido “sob pena de causar danos futuramente”, como se dizia antigamente. Mas é necessário nas crianças estrábicas ou amblíopes. É mais do que indicado, é imprescindível o uso de correção nestes casos sob pena de não conseguirmos recuperar tanto a visão de cada olho, individualmente, quanto a visão binocular, ou seja o trabalho conjunto e coordenado dos dois olhos, possibilitando por exemplo a visão de profundidade. Esta “qualidade” da visão, que nós chamamos de estereopsia, só é possível com a binocularidade.

A supervisão constante do desenvolvimento da criança determinará o momento certo de intervir. Exceto nas estrábicas e amblíopes, como já foi dito, que quanto mais cedo forem corrigidas melhor o resultado final. Por isso a avaliação oftalmológica é imprescindível durante o período de desenvolvimento pleno da capacidade funcional do olho no jovem. O consenso a respeito deste prazo era até os oito anos e hoje se estende até os dez anos de idade.

“Usar óculos para corrigir o grau” é uma expressão antiga e errada. Os óculos (ou as lentes de contato) são utilizados para devolver ao individuo a visão plena e o conforto visual, com ausência de sintomas, como deve ser. Em momento algum, o uso dos óculos deve vir acompanhado da expectativa de  “se usar agora, o grau não vai ficar tão alto no futuro” ou ainda “se você usar os óculos neste período quando ficar mais velho não precisará mais usar”. Estes são raciocínios falsos.

Quanto mais cedo usamos óculos mais ficamos dependentes deles ao longo da vida. Será mesmo necessário? Não creio. A maioria de nós deveria ser capaz de ter uma visão boa e confortável até a meia idade, quando a “vista cansada” começa. E não é o que tem acontecido.

Cada vez aumenta mais o numero de queixas visuais em crianças e jovens. E cada vez mais cedo. Em parte pelo estilo de vida. O uso excessivo de monitores, celulares e games aumentou muito a exigência de um sistema visual que não foi preparado para esta sobrecarga de trabalho. A qualidade da visão não é fruto apenas do “grau” do olho. Ou apenas da quantidade de visão que se tem. É muito mais complexo.

Com certeza,quanto maior o tempo que dedicamos às tarefas discriminativas visuais e em condições adversas,como postura errada,distancia de leitura inapropriada e não fazemos pausas em intervalos regulares,maior será o numero e a intensidade das queixas visuais.Nestes momentos costuma ser prescritos óculos para eliminar sintomas.

Mas, quando as ametropias são pequenas (a maioria das vezes),os óculos são utilizados por um tempo e quando mudamos de trabalho, de carga  horária ou aprendemos a otimizar as tarefas,vamos aos poucos prescindindo dos óculos.Muitas vezes esquecemos deles numa gaveta para só usar quando voltamos a estar em situações de grande exigência visual como vestibular, estudo para concurso,pesquisa e digitação para teses de mestrado ou doutorado,etc.

A maior parte de nós tem hipermetropia leve e um astigmatismo também pequeno que, se tudo correr bem,só iremos precisar corrigir mesmo,para melhorar a qualidade da visão.E após os 30-40 anos,ou um pouco mais tarde.Principalmente se não temos nenhuma disfunção motora ocular.E mesmo que estejam presentes elas podem facilmente ser compensadas,dispensando o uso dos óculos.

Cada olho tem seis músculos que ao se contraírem ou relaxarem, numa coreografia extremamente delicada e interessante, permitem as várias posições do olhar. Os dois olhos trabalham numa sincronicidade ímpar! Isto para fazer chegar ao córtex visual (cérebro) as informações de forma a que possam ser superpostas, permitindo maior detalhamento e sem o inconveniente da visão dupla ou confusa. Depois desta etapa temos o processamento da imagem nos centros corticais específicos para nos permitir melhor localização no espaço, além de dados importantes ao nosso equilíbrio postural. A informação visual passa então pela análise da área responsável pela cognição, no cérebro, onde é “traduzida”,  possibilitando assim a compreensão do que é visto e lido.

E, também aqui, uma etapa depende da outra para que tudo funcione a contento.

Não é complexo o processo?

Miopia, hipermetropia ou presbiopia?

Por que alguns de nós desde cedo enxergam mal e outros só deixam de ver bem após os quarenta ou cinqüenta anos?

 

A retina é a membrana (tecido) que “forra” internamente o olho. A informação do objeto que vemos é transmitida à retina através das camadas transparentes do olho. Estes são a córnea, o humor aquoso, o cristalino e o corpo vítreo, na seqüência em que são atravessados pelos raios que formarão a imagem do objeto a ser identificado.

Então, como condição primaria para enxergarmos bem, estas estruturas têm que estar transparentes e ter a refringência estimada e considerada padrão. Refringência é a capacidade de desviar o trajeto de um raio luminoso e com isso mudar as características daquilo que é visto.

Por exemplo, quando estamos dentro de uma piscina com os olhos abertos, dentro da água, a forma dos objetos que vemos pode estar diferente e com certeza menos nítida do que quando enxergamos através do ar. A razão para isto é a diferença entre o coeficiente de refração da água e o do ar. No olho,a refringência é dada basicamente pela curvatura e a densidade da córnea e do cristalino. Outro fator importante é a distancia que existe entre o ponto central da córnea (eixo visual) e a parte mais posterior do olho. Chamamos esta distância de diâmetro ântero-posterior do olho. Ele determina se o individuo é emétrope, míope ou hipermetrope. Estes três parâmetros juntos (córnea,cristalino e diâmetro antero-posteriorior) identificam a capacidade refrativa do olho. E ela nos informa sobre a necessidade ou não do uso de lentes corretoras para restaurar a capacidade visual.

Vinte e quatro milímetros é o valor considerado padrão para a distancia antero-posterior do olho. Seria este o “tamanho” do olho dito emétrope, ou seja, “normal”. Em outras palavras, um olho que não precisa de auxilio óptico para focalizar imagens para longe.

Existem pessoas hipermetropes. Aquelas com olhos pequenos de menos de vinte e quatro milímetros de comprimento. E as míopes têm olhos mais “compridos”. A situação de hipermetropia exige que o olho acione mecanismos de compensação para dar nitidez à imagem. É aí que entra o mecanismo de “acomodação” do olho. A capacidade de mudar de forma é que permite ao cristalino focar objetos próximos. O “músculo ciliar” se contrai e modifica sua forma, tornando-o mais curvo e trazendo a imagem para o foco na retina. Lembre-se de que como o olho hipermetrope é menor do que o padrão, a imagem teria seu foco atrás da retina e não sobre ela. Por isso a necessidade da “correção” do foco providenciada pelo próprio olho. No caso da miopia infelizmente o olho não processa de forma satisfatória este redimensionamento. É por isso que os míopes costumam usar óculos desde cedo, na infância ainda. Já os hipermetropes (exceto em casos específicos que serão comentados mais à frente) podem prescindir de correção óptica por um bom tempo durante a vida.

O astigmatismo é basicamente uma alteração da superfície corneana. Não há regularidade e a imagem apresenta deformações. Em casos menos freqüentes esta irregularidade na forma é do cristalino, mais que corneana. O astigmatismo corneano é de mais fácil correção do que o cristaliniano, embora sejamos capazes de neutralizar os dois. Novamente aqui,como na miopia, o olho não consegue compensar, a não ser pequenos graus de astigmatismo.

Em uma linguagem bem simplificada:

Um objeto é visto nitidamente quando seu foco se dá na retina. Nem antes nem depois deste tecido que é responsável pela captação dos sinais dos objetos que vemos. Estes dados serão transformados pelas células retinianas em informação e enviados através do nervo óptico até a parte posterior do cérebro (córtex occipital). É lá onde eles serão decodificados e transformados em imagem, em questão de fração de segundos!

Daqui em diante, para facilitar o entendimento, nos referiremos à visão para longe, como aquela em que enxergamos o está distante de nós pelo menos à distancia do nosso braço esticado. Esta distancia seria na verdade, uma distancia intermediaria. A quantidade de acomodação necessária para ver nitidamente a esta distancia é maior do que a necessária para ver a dois ou três metros. A menor acomodação do olho ou a situação em que este processo não é necessário para dar foco ao que vemos, é identificada como sendo a visão de longe.

Nós, médicos, consideramos seis metros o nosso “padrão” para longe, o “infinito” oftalmológico. Em outras palavras, se há necessidade do uso de  óculos para corrigir a visão de longe, este valor é obtido considerando o grau que mais nitidamente focaliza objetos a uma distancia de seis metros.

Para perto avaliamos a refração (grau) que nos permite ver bem a trinta e sete centímetros. Esta é a distancia para a qual a visão de perto é corrigida. São nossos óculos de leitura. As várias distancias ditas intermediarias variam de acordo tanto com a necessidade profissional de cada um de nós quanto nossa estrutura morfológica e biométrica. Somos diferentes uns dos outros. Uma pessoas são altas, outras baixas, umas com braços mais compridos do que outras e assim por diante. As dimensões do corpo têm influencia na distancia mais confortável de leitura. Ela é variável, para cada um de nós. Mas temos que partir de um padrão, determinado como sendo  trinta e sete centímetros (valor impresso nas tabelas disponíveis para mensurar a capacidade de leitura). Cabe ao médico e ao paciente identificar a melhor correção em cada caso.

Voltando à visão, já sabemos que fomos programados para enxergar para longe. Temos capacidade de “corrigir” a visão para distancias mais curtas e o fazemos através da acomodação, como já vimos. A capacidade funcional deste músculo diminui com a idade. O leigo chama este processo de “vista cansada” e nós médicos de “presbiopia”.

A diminuição lenta, mas progressiva da capacidade contrátil das fibras do músculo ciliar (como a dos vários outros) é responsável pela necessidade de uso de correção óptica para perto. Com a perda progressiva da elasticidade do cristalino fica reduzida sua capacidade de mudar sua forma para focalizar perto.

A partir daí vamos precisar de óculos ou lentes de contato para leitura.Calma, não é o fim do mundo…apenas o inicio de uma nova fase!

Entendendo a visão

 

Falando sobre a visão,s atores principais são a retina, o nervo óptico e o córtex visual (cérebro). São responsáveis pela condução e processamento dos dados que se transformarão no que vemos. Como coadjuvantes temos a córnea e o cristalino. São estruturas transparentes com a função de “adequar” as informações que serão transmitidas ao cérebro como se fosse um “photoshop”, ou seja, elas “corrigem” dentro do possível, as aberrações e distorções para que o que vejamos, quando processada pelo cérebro, seja uma imagem nítida, mais próxima possível do objeto que lhe deu origem. Além deles, a lágrima, o humor aquoso e o vítreo, também transparentes, têm influencia, embora menor, na qualidade final da imagem.

A retina é a membrana (tecido) que “forra” internamente o olho. A informação do objeto que vemos é transmitida à retina através das camadas transparentes do olho. Como já vimos, elas são a córnea, o humor aquoso, o cristalino e o corpo vítreo, na seqüência em que são atravessados pelos raios que formarão a imagem do objeto a ser identificado.

As fibras retinianas se juntam e formam o nervo óptico, que conduz a informação visual por um longo caminho, através das estruturas cerebrais até chegar ao córtex visual no lobo occipital, onde a imagem é processada e reconhecida. Em outras palavras, unimos o que vemos com a informação, já conhecida, a respeito daquela imagem, ou seja, ela é interpretada e passa a fazer sentido para nós. É o que nos conecta à experiência visual que temos do mundo em que vivemos.

Viu como é complexo o processo?

E uma etapa depende da outra para que tudo funcione a contento…