Por que muitas vezes, nas tarefas do dia a dia temos desconforto relacionado à visão de perto (ou intermediária),como na leitura prolongada (papel) e/ou no uso de computadores? As queixas mais comuns são dor de cabeça, dor nos olhos, lacrimejamento, embaçamento visual transitório frequente e ardencia ocular. O que acontece com os olhos nesses momentos? E o que podemos fazer a respeito.
A visão binocular
Cada olho tem seis músculos (externos ou extrínsecos como os chamamos) que, ao se contraírem ou relaxarem, numa coreografia extremamente delicada e interessante, permitem as várias posições do olhar. Os dois olhos trabalham numa sincronicidade ímpar! Isto para fazer chegar ao córtex visual (cérebro) as informações de forma que possam ser superpostas, permitindo maior detalhamento e sem o inconveniente da visão dupla ou confusa. Depois desta etapa temos o processamento da imagem nos centros corticais específicos, o que irá nos permitir melhor localização no espaço, além de fornecer dados importantes ao nosso equilíbrio postural. A informação visual passa então pela análise da área responsável pela cognição, no cérebro, onde é “traduzida”, possibilitando assim a compreensão do que é visto e lido.
Viu como é complexo o processo?
E uma etapa depende da outra para que tudo funcione a contento.
Já ouviu falar de pessoas que sempre enxergaram bem e depois de um acidente vascular cerebral (AVC) não conseguem mais ler ou entender o que vêem? Quando examinamos os olhos, não detectamos nada de anormal. Conseguem enxergar as letras projetadas na tela, uma a uma. Às vezes até formam palavras com as letras. Mas não conseguem associar o que leram à imagem que viram. As letras c, a, s, a são lidas, separadamente, sem nenhum problema. A palavra casa pode ser identificada. Mas ao ser mostrada a esses indivíduos a fotografia de uma casa eles não conseguem relacioná-la à palavra lida. A associação não é feita. Não basta ser capaz de ver (apenas), é necessária a compreensão do que se vê para que efetivamente possamos agregar valor à função visual. Do contrário, muito menos serventia ela terá.
Bem, voltando ao dia a dia, se preparássemos melhor nossos músculos oculares teríamos menos queixas nos consultórios. E menos óculos prescreveríamos, pois muitas das vezes, mesmo usando os óculos prescritos, as queixas permanecem. Em um primeiro momento, tendo sido corrigido o “grau do olho” pode haver um alívio dos sintomas, mas em algumas semanas eles acabam retornando porque na verdade são fruto do uso inadequado dos olhos. Um conjunto de fatores pode ser, de fato, responsável pela falta de conforto na visão. E não apenas a falta da correção óptica.
Ambas, tanto a refração como a cooperação binocular, são importantes. Na minha experiência, salvo exceções, quanto mais jovem o indivíduo, maior peso tem a disfunção motora. Porque nesta faixa etária o grau ainda está sendo bem administrado, mas a musculatura dos olhos ainda não está treinada o suficiente para as adaptações ne- cessárias frente às novas tarefas visuais.
Hoje, muito cedo as crianças são submetidas a esforços discriminativos visuais que requerem qualidades motoras ainda não plenamente desenvolvidas nessa faixa etária. Quando estas crianças são tratadas pela ortóptica, uma espécie de “fisioterapia visual”, ràpidamente as queixas desaparecem, muitas das vezes sem a necessidade de se agregar óculos às atividades diárias.
Um exemplo:
A necessidade de ver detalhes mínimos como letras muito pequenas, símbolos diminutos, dispostos em seqüência (linhas após linhas como na leitura de textos), até pouco tempo era atributo do olhar para baixo. Explico melhor: desde pequenos, todo tempo que precisamos focalizar para perto o fazemos utilizando os olhos na posição de leitura de papel. Na hora das refeições, quando brincávamos de quebra-cabeça ou dominó, outras atividades lúdicas ou mesmo ao ler e escrever, estávamos usando os músculos responsáveis por manter os olhos alinhados na posição inferior, olhando para baixo. Assim crescemos e os músculos responsáveis por esta função se hipertrofiaram e cumprem bem o seu papel. Não percebemos incomodo nestas tarefas. Não sentimos o esforço a que estão submetidos estes músculos. Eles já estão acostumados.
Uma situação diferente é o olhar para cima, que quase nunca é solicitado. Lembra de ter que abaixar logo os olhos quando fica alguns segundos olhando para cima para, por exemplo, trocar uma lâmpada? Logo, logo sentimos desconforto, não é mesmo? Não temos esse costume, então os músculos quase não são solicitados. E não se desenvolveram como os músculos responsáveis pelo olhar para baixo.
Na distância intermediária, que usamos para ler na tela do computador, os músculos exigidos são os do olhar em frente. Eles estavam acostumados a trabalhar pouco nesta função. Eram usados mais para distâncias maiores (dirigir e assistir a um filme, por exemplo). Agora a exigência é muito maior e por tempo mais prolongado. Não preparamos de forma conveniente nossos músculos para este tipo de esforço. Prin- cipalmente alguns de nós que já não tínhamos músculos tão bons, mas que, se não fosse esta nova exigência, lentamente melhoraríamos nossa performance, sem a necessidade de intervenção médica. A tecnologia crescente não nos deu este tempo de adaptação à modernidade.
O termo “prontidão binocular” foi cunhado para se referir ao estado de fun- cionamento ideal do sistema visual. Uma situação em que há total sincronicidade entre o trabalho conjunto e harmonioso dos músculos envolvidos nas várias distancias do o- lhar e os ajustes pontuais nas conexões encefálicas responsáveis pela visão.
O resultado é o conforto visual obtido em todas as tarefas que precisamos exe- cutar em nosso dia a dia.Sem dor de cabeça, sem ardência, sem olho vermelho, sem can- saço visual. Mas, muitas vezes não somos capazes de conseguir estes ajustes sem auxílio. Nesses casos, um bom ortoptista será capaz de nos devolver o conforto da visão binocular. O profissional de ortóptica está inserido no contexto da reabilitação motora. Não por acaso o único curso (nível superior) de ortóptica do Rio de Janeiro foi por muito tempo ministrado no Instituto Brasileiro de Medicina de Reabilitação (IBMR).
A cooperação estreita entre o oftalmologista e o ortoptista assegura o conforto e a qualidade da visão.
Consulte seu oftalmologista regularmente!
Leia mais sobre ametropia e óculos em:
http://www.drvisao.com.br
http://www.portaldaoftalmologia.com.br
Leia mais sobre cansaço visual neste blog no post “A visão,os olhos e os computadores” em:
https://elizabethnavarrete.com/2010/09/25/a-visaoos-olhos-e-os-computadores/
Acrescento aqui a dúvida de um internauta:
“Fico muito tempo no computador. E às vezes preciso usar o monitor com luz apagada (para não incomodar o quarto ao lado). Queria saber se isso é muito prejudicial aos olhos. Sinto às vezes minhas vistas um pouco cansadas. Isso indica que é hora de parar e descansar?”
A imersão na leitura constante e ininterrupta costuma piorar a visão de longe (embora este fato possa ser transitório).
A situação de uso inadequado da visão, ou diria melhor, a utilização do sistema visual em condições menos /favoráveis, não tem o significado de piorar/ aumentar o grau dos olhos ou desenvolver esta ou aquela patologia orgânica ocular. Os sintomas que podem surgir advém do piscar incompleto e da menor freqüência do piscar, do esforço acomodativo para ver perto, e também da não alternância do foco de longe e perto varias vezes ao longo da leitura (mais na tela do que no papel). Alguns outros fatores podem contribuir para o cansaço dos olhos no trabalho visual de perto (o termo médico usado é “astenopia”).
Consulte os links abaixo para conhecer mais sobre ergo-oftalmologia (estudo da otimização do uso do sistema visual para minimizar ou eliminar a astenopia ( cansaço visual) decorrente da tarefa discriminativa visual constante.
http://www.schaefer.com.br/pub/publicacoes/manual_ergoftalmologia.pdf
http://www.scribd.com/doc/18502288/10-Dr-Herbert-Stern-Ergo-Oftalmologia-como-Mecanismo
http://www.difundir.com.br/mobile/c_mostra_release_mobile.php?emp=1960&num_release=16306&ori=T
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