Num comentário a respeito do post “ Moscas volantes…como lidar com elas?”, uma internauta me informou sobre a existência de um abaixo-assinado cuja finalidade é chamar atenção da comunidade médica para um sintoma muito comum (e não raras vezes muito inconveniente e causador de muito estresse para o indivíduo portador).
Ela disse:
“Estamos nos movimentando, para que as autoridades médicas encontrem uma solução para o nosso problema. Caso a interesse entre no site e assine o baixo assinado em http://www.moscavolante.com.br”
Que o sintoma é mais comum do que imaginava eu, oftalmologista há pouco mais de 30 anos, concordo: os textos a respeito de “moscas volantes” e “flashes” são de longe, os mais acessados, desde a primeira postagem do blog!
Que muitos pacientes se sentem desamparados e desassistidos pelos seus médicos quando eles os informam de que “moscas volantes são muito comuns e você acaba se acostumando com elas…é só uma questão de tempo”, isso também é verdade: essa é uma crítica muito comum dos portadores de moscas volantes!
Alternativas a essa conduta foram descritas aqui no blog. Tanto pacientes quanto médicos devem estar conscientes das dificuldades que alguns de nós portadores temos em relação ao convívio e a superação de tão exasperante sintoma ocular.
Alternativa cirúrgica existe, mas deve ser a última opção por conta dos possíveis secundarismos (efeitos colaterais e/ou iatrogenias). A indicação do procedimento é feita apenas em casos escolhidos a dedo e não sem antes obter consentimento informado do paciente. A imprevisibilidade de melhora sem os tão temidos efeitos secundários a curto, médio e longo prazo é uma realidade. E ele, paciente, deve ser informado dos riscos e aceitá-los, dividindo a responsabilidade com quem irá tentar ajudá-lo.
Mas, até quando possível e tolerável, ninguém arrisca o certo pelo duvidoso, não é mesmo? Eu, pessoalmente já cogitei fazer a intervenção vítreo-retiniana nos piores dias do meu calvário ocular. Um DPV agudo há seis meses, com rotura retiniana tratada a laser e hemorragia vítrea deixaram como seqüela uma opacidade vítrea importante bem próxima ao meu eixo visual. Como disse antes, cogitei… Mas a fase de ansiedade e irritabilidade extrema deu lugar à resignação e entendimento de que poderia ter sido pior. E segui vivendo: dias melhores…e dias piores. Por que em relação às moscas volantes todos sabemos que dias estressantes significam “ver mais floaters”, sentir mais incomodo em relação à visão, aos olhos. Dias se seguem sem que nos incomodemos com qualquer manchinha na visão…não é mesmo? São dias felizes, por que estamos bem emocionalmente e o cérebro “anula”, “ignora” o que não é essencial. O que é “over”.
Em suma, o que quero dizer é que existem muitas outras patologias mais debilitantes, que reduzem bastante a visão e muitas vezes de inicio precoce, com redução importante da qualidade de vida do individuo. Dito isto, é compreensível que a atenção e agilidade da comunidade cientifica em ditar normas e soluções para doenças oculares priorizem esses pacientes.
Entendo que todo sintoma deve ser valorizado e que cada caso é um caso. Inclusive também pude, na qualidade de paciente, avaliar o quanto é incômoda e de pouca ajuda a fala do médico (“você vai se acostumar!” argh!!!!!) na tentativa de justificar a falta de intervenção curativa mais eficiente!
Mas vejo todos os dias quadros mais incapacitantes e graves, de prognóstico reservado e que impõem ao médico a sensação tão incomoda de impotência e ao paciente a tristeza e a dor da falta de esperança. Por tudo isso senti necessidade de dizer a você, leitor, que nós médicos precisamos priorizar algumas intervenções e pesquisas em detrimento de outras. A Medicina avançou muito nas últimas décadas, é verdade, mas muito ainda se precisa conhecer e aprender em relação à manutenção da saúde e da qualidade de vida em relação aos vários sistemas e órgãos do corpo humano.
Sejamos mais pacientes e menos ansiosos em relação a soluções imediatas e mantenhamos em mente que os avanços necessários estão acontecendo, cada um a seu tempo e na medida do possível!
Sei que às vezes as tais moscas volantes podem ser muito incapacitantes! O pior pesadelo que uns e outros podem ter vivido. Mas, acreditem, a seu tempo o desconforto fica mais tolerável se entendemos que quanto mais pacífica a convivência com os floaters, mais fácil a vida fica!
Nesse meio tempo os grupos de ajuda funcionam bem. Como para as outras doenças, a troca de informações ou mesmo um espaço para desabafar e “recarregar as baterias”, falando com quem vivencia as mesmas dificuldades, faz diferença: para melhor!
Por isso, parabenizo a iniciativa de criação de um blog sobre moscas volantes além de me solidarizar com aqueles que, como eu, ainda sentem a interferência desagradável desses floaters no dia a dia.
P.S.: Uma abordagem interessante sobre habituação em relação às moscas volantes (de forma semelhante ao que é proposto na habituação ao tambem desagradável sintoma que é o zumbido) voce encontra na leitura de um ebook disponivel na internet. O autor Mark Lorne explica por que alguns de nós não conseguimos evitar “ver” os floaters comuns a quase totalidade da população. E propõe algumas estratégias possiveis para a evitar a percepção deles. Um leigo interessado em ajudar outros individuos a conviver com moscas volantes. Mais ainda, ele identifica um perfil psicológico comum aos queixosos cronicos em relação às moscas volantes. Vale a pena ler e refletir a respeito!
O link:
http://www.noeyefloaters.com/index.htm
No blog www.moscavolante.com.br uma tradução livre do texto de Mark Lorne
boa tarde,
Sei que são muitas as pessoas com dúvidas, mas vou tentar, minha filha
há algum tempo queixou-se do seguinte: , vusualizava bolinhas que aumentavam em quantidade e logo em seguida a dor de cabeça, e que após a chegada da dor as bolinhas sumiam, agora há uns quinze dias ela se queixa que ela vê essas bolinhas no olho direito,diariamente, as vezes dura cerca de uma hora, , ja fez o mapeamento da retina 2 vezes e o ultrassom com um especialista em retina, que refere ser moscas volantes,mas essas bolinhas não sao diferentes das tais moscas volantes? por favor me responda estou aflita.as moscas volantes podem se apresentar de diversas formas e tamanhos?
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A queixa do paciente é sempre subjetiva.Daí a dificuldade que nós médicos temos em chegar à doença apenas pela queixa. Os sinais clínicos (obtidos através de exame físico) e os exames complementares ajudam a fazer diagnostico e a validar (ou não) a queixa.
Ainda mais em se tratando de criança (adolescente? ).
O fato do inicio da dor coincidir com o termino do fenômeno visual fala a favor de migrânea ou enxaqueca. Nesse caso podem existir alguns outros dados que corroboram o diagnostico (enjoo de movimento, dor abdominal importante em momentos de estresse p.ex.). Nenhum exame complementar faz o diagnostico de migrânea que é, portanto, um diagnostico de exclusão.
Apenas um neurologista pode se pronunciar com segurança a respeito, apos examinar a criança, ouvir a historia dos sinais e sintomas e avaliar exames complementares que excluam qualquer outra patologia. Não se esqueça de averiguar a historia familiar (lado materno e paterno) a respeito de episódios semelhantes,ou mesmo de outras patologias neurológicas para comunicar ao medico assistente.
Espero ter ajudado!
Abs,
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Republicou isso em Elizabeth R.R.Navarretee comentado:
E o assunto continua mais do que atual…infelizmente! Àqueles a quem interessar a matéria, fazer parte de um grupo de discussão pode fazer diferença,sim!Disponível no facebook (www.facebook.com/MoscasVolantes).
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