descolamento de vitreo

Moscas volantes…como ajudar?

Num comentário a respeito do post  “ Moscas volantes…como lidar com elas?”, uma internauta me informou sobre a existência de um abaixo-assinado cuja finalidade é chamar atenção da comunidade médica para um sintoma muito comum (e não raras vezes muito inconveniente e causador de muito estresse para o indivíduo portador).

Ela disse:

“Estamos nos movimentando, para que as autoridades médicas encontrem uma solução para o nosso problema. Caso a interesse entre no site e assine o baixo assinado em http://www.moscavolante.com.br

Que o sintoma é mais comum do que imaginava eu, oftalmologista há pouco mais de 30 anos, concordo: os textos a respeito de “moscas volantes” e “flashes” são de longe, os mais acessados, desde a primeira postagem do blog!

Que muitos pacientes se sentem desamparados e desassistidos pelos seus médicos quando eles os informam de que “moscas volantes são muito comuns e você acaba se acostumando com elas…é só uma questão de tempo”, isso também é verdade: essa é uma crítica muito comum dos portadores de moscas volantes!

Alternativas a essa conduta foram descritas aqui no blog. Tanto pacientes quanto médicos devem estar conscientes das dificuldades que alguns de nós portadores temos em relação ao convívio e a superação de tão exasperante sintoma ocular.

Alternativa cirúrgica existe, mas deve ser a última opção por conta dos possíveis secundarismos (efeitos colaterais e/ou iatrogenias). A indicação do procedimento é feita apenas em casos escolhidos a dedo e não sem antes obter consentimento informado do paciente. A imprevisibilidade de melhora sem os tão temidos efeitos secundários a curto, médio e longo prazo é uma realidade. E ele, paciente, deve ser informado dos riscos e aceitá-los, dividindo a responsabilidade com quem irá tentar ajudá-lo.

Mas, até quando possível e tolerável, ninguém arrisca o certo pelo duvidoso, não é mesmo? Eu, pessoalmente já cogitei fazer a intervenção vítreo-retiniana nos piores dias do meu calvário ocular. Um DPV agudo há seis meses, com rotura retiniana tratada a laser e hemorragia vítrea deixaram como seqüela uma opacidade vítrea importante bem próxima ao meu eixo visual. Como disse antes, cogitei… Mas a fase de ansiedade e irritabilidade extrema deu lugar à resignação e entendimento de que poderia ter sido pior. E segui vivendo: dias melhores…e dias piores. Por que em relação às moscas volantes todos sabemos que dias estressantes significam “ver mais floaters”, sentir mais incomodo em relação à visão, aos olhos. Dias se seguem sem que nos incomodemos com qualquer manchinha na visão…não é mesmo? São dias felizes, por que estamos bem emocionalmente e o cérebro “anula”, “ignora” o que não é essencial. O que é “over”.

Em suma, o que quero dizer é que existem muitas outras patologias mais debilitantes, que reduzem bastante a visão e muitas vezes de inicio precoce, com redução importante da qualidade de vida do individuo. Dito isto, é compreensível que a atenção e agilidade da comunidade cientifica em ditar normas e soluções para doenças oculares priorizem esses pacientes.

Entendo que todo sintoma deve ser valorizado e que cada caso é um caso. Inclusive também pude, na qualidade de paciente, avaliar o quanto é incômoda e de pouca ajuda a fala do médico (“você vai se acostumar!” argh!!!!!) na tentativa de justificar a falta de intervenção curativa mais eficiente!

Mas vejo todos os dias quadros mais incapacitantes e graves, de prognóstico reservado e que impõem ao médico a sensação tão incomoda de impotência e ao paciente a tristeza e a dor da falta de esperança. Por tudo isso senti necessidade de dizer a você, leitor, que nós médicos precisamos priorizar algumas intervenções e pesquisas em detrimento de outras. A Medicina avançou muito nas últimas décadas, é verdade, mas muito ainda se precisa conhecer e aprender em relação à manutenção da saúde e da qualidade de vida em relação aos vários sistemas e órgãos do corpo humano.

Sejamos mais pacientes e menos ansiosos em relação a soluções imediatas e mantenhamos em mente que os avanços necessários estão acontecendo, cada um a seu tempo e na medida do possível!

Sei que às vezes as tais moscas volantes podem ser muito incapacitantes! O pior pesadelo que uns e outros podem ter vivido. Mas, acreditem, a seu tempo o desconforto fica mais tolerável se entendemos que quanto mais pacífica a convivência com os floaters, mais fácil a vida fica!

Nesse meio tempo os grupos de ajuda funcionam bem. Como para as outras doenças, a troca de informações ou mesmo um espaço para desabafar e “recarregar as baterias”, falando com quem vivencia as mesmas dificuldades, faz diferença: para melhor!

Por isso, parabenizo a iniciativa de criação de um blog sobre moscas volantes além de me solidarizar com aqueles que, como eu, ainda sentem a interferência desagradável desses floaters no dia a dia.

P.S.: Uma abordagem interessante sobre habituação em relação às moscas volantes (de forma semelhante ao que é proposto na habituação ao tambem desagradável sintoma que é o zumbido) voce encontra na leitura de um ebook disponivel na internet. O autor Mark Lorne explica por que alguns de nós não conseguimos evitar “ver” os floaters comuns a quase totalidade da população. E propõe algumas estratégias possiveis para a evitar a percepção deles. Um leigo interessado em ajudar outros individuos a conviver com moscas volantes. Mais ainda, ele identifica um perfil psicológico comum aos queixosos cronicos em relação às moscas volantes. Vale a pena ler e refletir a respeito!

O link:

http://www.noeyefloaters.com/index.htm

No blog  www.moscavolante.com.br  uma tradução livre do texto de Mark Lorne

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Floaters (moscas volantes) e depressão…qual a relação provável?

A depressão causa moscas volantes …ou seriam os anti-depressivos?

 

O que veio primeiro, o ovo ou a galinha?

Como já expliquei aqui em outro post, o olho sinaliza para o cérebro (através de alt. bioquímicas e condução de impulsos elétricos) a informação do ambiente externo (a realidade que vemos no dia a dia) e muitas vezes também do ambiente interno (que se passa no nosso organismo). Esse segundo “input” não deveria acontecer. O equilibrio nas relações bioquimicas olho-cerebro garante que sejam bloqueadas essas “visões”. Em alguns momentos porem, isso não acontece e passamos a identificar (e nos incomodar) com essa visão “extra”.

Os antidepressivos têm na bula como efeito colateral as moscas volantes. Mas não há informação a respeito da causa primária. O desequilíbrio dos neurotransmissores (causado pela medicação ao modificar a relação entre as varias substancias que circulam e modulam as atividades cerebrais) parece ser a causa das moscas volantes relatadas nesses pacientes. Mas é preciso notar que ainda não se reconhece a  desorganização vítrea como resultado da alteração bioquímica cerebral. O que hoje podemos afirmar é que essa alteração poderia causar um desbloqueio   dos mecanismos inibitórios  da visão do ambiente interno levando ao aumento da capacidade de ver os floaters  e/ou aumento da intensidade do sintoma (que poderia já exisitir anteriormente).

Então o uso do inibidor de recaptação da serotonina não produziu as moscas volantes, mas deu visibilidade ao sintoma antes não percebido como incomodo (por que em menor intensidade ou freqüência). A causa do floater segundo conhecimento adquirido até hoje é estrutural e ocular (alteração na constituição vítrea).

Como descrito num site sobre floaters  no link    http://www.aboutfloaters.com/depression.htm

“…alguns médicos acreditam que com o tempo o cérebro pode realmente aprender a ignorar as moscas volantes e impedir  que as vejamos…se o cérebro pode, de fato, aprender com o tempo a ignorá-las através de mudanças na química encefálica, a forma de lidar com a depressão se torna muito importante para evitar causar um desequilíbrio desses neurotransmissores…”

Pode ser que amanhã se descubra que a própria alteração bioquímica que pode gerar os sintomas depressivos seja a mesma que altera a composição do gel vítreo e inicie o processo (degeneração fibrilar, sinérese, cavitação, DPV) que culminará com o aparecimento das moscas volantes ou floaters.

Mas hoje isso é apenas especulação!

A droga  5HTP (triptofano), é um precursor da serotonina, porisso tem  efeito antidepressivo quando metabolizado, na medida em que é capaz de aumentar a concentração deste neurotransmissor no cérebro. Aqui não se discute o uso da droga como alternativa ao tratamento de qualquer tipo de depressão . Este não é o foro adequado, nem o oftalmologista trata a doença depressiva. Apenas se vê ,de vez em quando, às voltas com os efeitos colaterais do tratamento (seja olho seco, dificuldade visual na leitura para perto ou mesmo a intensificação (ou aparecimento) de moscas volantes.

Apenas considero que qualquer que seja a via usada para aumentar a concentração cerebral de serotonina ela será capaz de desencadear os sintomas visuais, ao promover o desequilíbrio dos outros neurotransmissores.

Na necessidade temporária de aumentar a serotonina, os sintomas ou sinais que advém desta prática serão avaliados e minimizados através das estratégias cabíveis.

O blog se destina apenas a informar, na medida do possível. Não pretende substituir o médico oftalmologista, nem o neuropsiquiatra e muito menos ratificar ou contrariar esta ou aquela linha de conduta terapêutica (oftalmológica e/ou clinica).

 

Leia mais sobre moscas volantes nos links:

https://elizabethnavarrete.com/2012/01/19/moscas-volantes-alguns-nem-percebem-outros-nao-conseguem-conviver/

https://elizabethnavarrete.com/2012/01/19/convivendo-com-os-floaters-ou-moscas-volantes/

 

 

 

Existe tratamento para moscas volantes?..vale a pena?

Conforme publicado em outro blog,esta é a resposta a questionamento de internauta a respeito de tratamento para moscas volantes. Em negrito a pergunta e logo abaixo os comentarios a respeito.

“Há dois meses sofri um trauma no olho direito e comecei a ver as moscas volantes. Fiz o mapeamento da retina, o US e o exame do fundo de olho dos dois olhos e foi diagnosticado DPV no olho direito. De lá para cá comecei a sentir aumento da sensibilidade a luz no olho esquerdo a ponto de em um determinado dia sentir dores, mas hoje estou melhor.
Comecei a ver umas duas moscas no olho que nao tinha DPV será que meu problema no olho direito afetou o olho esquerdo?
Li que a única saída para as moscas seria a vitrectomia, mas é muito arriscado e todos os médicos costumam a orientar a se acostumar com as “malditas moscas”! Mas para quem sofre deste problema é uma grande angústia. O que você acha, já que nem se quer uso óculos?
E qual o melhor e mais cristalino substituto para o vítreo?”

Antes de sermos médicos somos indivíduos como vocês (pacientes) e apesar de perseguirmos a melhor opção para cada caso, temos muitas dúvidas, ainda! E se a maioria dos oftalmologistas tem conduta conservadora em relação à vitrectomia (remoção cirúrgica do vítreo liquefeito e das condensações que se formaram e substituição por outra estrutura identificada caso a caso como a melhor opção para substituí-lo) para tratamento das “malditas moscas”, como você se refere aos seus floaters, deve haver uma razão!

O procedimento terapêutico é muito invasivo e as possibilidades de iatrogenia (complicações causadas pela intervenção médica) são muitas. Endoftalmite, catarata secundária, descolamento de retina são algumas delas. E muitas das vezes o resultado visual fica aquém do esperado. Algumas “moscas” continuam lá ou tornam a aparecer depois de algum tempo. Alguns pacientes ficam bem (conforme relato de pesquisas).

Mas todo oftalmologista que proponha ou aceite realizar a vitrectomia ou a vitreólise farmacológica deve ter o formulário de consentimento assinado pelo paciente.Neste papel devem estar listados todos os possíveis e/ou prováveis efeitos colaterais, além de estar explicitado que todas as dúvidas do paciente foram devidamente esclarecidas pelo médico assistente antes do procedimento invasivo.

Eu tenho convivido com as minhas (moscas volantes) no olho direito desde os 18 anos (hoje tenho 59), após ter capotado com o carro num acidente.Apesar das moscas volantes (muito incômodas de vez em quando, é verdade) e das eventuais fotopsias (responsáveis pelos mapeamentos repetidos), tive sorte de não ter (após tantos anos) nenhuma tração vitreo-macular que sugerisse necessidade de cirurgia pelo risco de comprometimento visual (temporário ou permanante).

A melhor forma de lidar com as “moscas volantes” é aguardar um tempo. O cérebro irá se encarregar de “fazer com que você não as veja mais”,exceto em situações específicas. Na maior parte do tempo você se verá livre delas.

Acredite!

Monitorize o DPV (dos dois olhos), principalmente se for parcial. Mantenha acompanhamento com o retinólogo (mapeamentos e US). Quando e se surgir a tração vitreo-macular,com os riscos inerentes à área central da visão, a vitrectomia poderá estar indicada. Mas até lá (o que pode significar muitos e muitos anos), a vitrectomia não é opção boa, principalmente em jovens.
A cirurgia intra-ocular é fator de risco para membrana epirretiniana, edema de mácula e cistos maculares que podem levar (no longo prazo) a buracos de macula, que podem significar prognostico visual reservado (ruim).

Pense bem e ouça várias opiniões. Instrua-se bastante a respeito do assunto antes de tomar qualquer decisão. Antes de mais nada, procure uma relação médico-paciente que resulte num diálogo honesto, onde exista empatia e tente estabelecer o tipo de relacionamento que vai deixá-lo confiante em relação ao que está acontecendo com seus olhos e o que fazer para voltar a se sentir bem.

Tenho certeza de que você conseguirá as respostas e orientações que precisa!

E se você ainda não tem o hábito do uso de óculos com filtro UV, esta é uma boa hora para começar. Lentes fotossensíveis, por exemplo. Qualquer lente com filtro total (400 nanômetros) significa prevenção interessante em relação à agressão macular. Principalmente num olho com DPV (precoce, não senil) todas as estratégias que minimizem o traumatismo macular (mesmo que seja o foto–traumatismo) são mais que benvindas!

E ainda farão (os óculos) com que você perceba menos as “moscas volantes”.

Floaters,moscas volantes.Ainda comentando a respeito…

 

Floaters, moscas volantes. Ainda comentando a respeito…

 

O tema moscas volantes ainda gera dúvidas…

 

Então vou usar uma analogia aqui para me fazer entender melhor.

 

O que o glaucoma crônico simples ou simplesmente glaucoma (como é conhecido) tem a ver com o glaucoma agudo? Quase nada… exceto o dano (irreversível muitas vezes) à camada de fibras nervosas (nervo óptico). São duas entidades diferentes.

No glaucoma agudo a PIO (pressão intra-ocular) muito elevada (40,60 ou mais mmHg) leva a sintomas agudos e bem específicos, além de dor ocular intensa. E se não tratado em tempo hábil pode resultar em perda funcional severa em questão de horas ou dias. E porque acontece? Um conjunto de fatores precipitantes e uma estrutura anatômica do olho facilitadora de tal evento: uma área de escoamento com menor capacidade de filtração do que na maioria das pessoas,o que chamamos de ângulo estreito oclusível. O aumento brusco do liquido no interior do olho eleva ràpidamente a PIO a níveis que além de gerar dor intensa reduz drasticamente o fluxo sanguineo (suprimento de oxigênio) ao nervo óptico. Como num infarto agudo do miocárdio.

Ao contrário, no glaucoma crônico simples a diminuição da oxigenação do nervo óptico se dá como na angina do peito (angina pectoris)…que diferentemente do infarto ocorre aos poucos e lentamente. No coração leva à insuficiência cardíaca; no olho a perda funcional se traduz por diminuição do campo visual e algumas vezes evolui para a cegueira, quando não tratado em tempo hábil ou em casos refratários (mais raramente). Portanto o glaucoma (crônico simples) é insidioso, lento e assintomático. É diagnosticado em consultas de rotina.

 

O DPV tem história parecida.

A cavitação, liquefação e desorganização do corpo vítreo se dão “espontaneamente”, com a idade. As aspas lembram que o processo faz parte da senescencia ocular assim como a catarata. Ambos equivalem às rugas e ao cabelo branco.

Em alguns de nós a desorganização vítrea acontece bem cedo (às vezes antes da adolescência). Mas não é comum nem natural (embora quase sempre a causa permaneça “desconhecida”). O oftalmologista não encontra sinais de doença vítreo-retiniana que justifiquem o aparecimento dos floaters gerados pela alteração estrutural do vítreo.

Sabe por que a dor de cabeça quase sempre acompanha o resfriado ou a gripe? Porque a virose é sistêmica, ou seja, muitos órgãos são afetados e um deles é o encéfalo. Uma encefalite discreta é a causa da dor de cabeça na gripe comum. Mas o médico quando o examina não diz que você esta com uma encefalite (que se tiver outras causa tem um significado bem mais grave). Ele apenas se refere à gripe , não é mesmo?

Então, a vitreite discreta pode acontecer em qualquer virose ou doença infecciosa e ser fenômeno que inicia o processo lento e gradual de desorganização vítrea.  O DPV “crônico”, desacompanhado de tração vítreo-retiniana e na ausência de condensações vítreas densas no eixo visual ou próximo dele é o achado mais comum à quase totalidade dos diagnósticos de descolamento posterior de vítreo. E é (quase) assintomático. O paciente não refere espontaneamente a queixa; precisa ser perguntado se costuma ver essas mosquinhas de vez em quando…

O DPV agudo e tracional, em contra-partida, comumente vem acompanhado de muitas queixas visuais. Deve ser avaliado com rigor por que pode se apresentar com rotura retiniana com ou sem hemorragia. A tração vítreo-retiniana não é incomum e a médio e longo prazo pode gerar micro roturas na retina periférica ou cistos maculares que por sua vez, anos mais tarde podem se romper e levar a um buraco macular.

Felizmente esse tipo de DPV é incomum (menos de 5% dos casos)!

Como disse nos dois posts anteriores a esse (neste blog), a respeito de floaters, a intenção foi me dirigir a esse grupo especifico de indivíduos com diagnostico de DPV agudo.

Como apresentam muitas queixas que em geral são minimizadas por não haver terapêutica convencional especifica que os ajude em relação às manchas em seu campo visual (moscas volantes), minha intenção foi informar mais. E também (por que não dizer) me solidarizar com o desconforto deles. O primeiro passo para aceitar e ajudar na recuperação do conforto visual é entender o que se passa.

Essa etapa faz parte, necessariamente, do processo de “cura”. Do contrário, indivíduos continuarão reclamando que não são compreendidos, passam por vários consultórios alegando que os médicos ainda não descobriram o que eles têm e assim por diante.

Essencialmente porque não foram informados sobre as causas e os porquês das diferenças de manifestações de uma “mesma” situação clinica (DPV) em cada individuo. Além disso, quando muitos (médicos ou leigos) nos dizem que sempre viram essas mosquinhas, mas elas nunca os incomodaram pode soar a alguns de nós (indivíduos com sintomas exasperantes) que somos incompetentes e não colaboramos na solução do nosso desconforto. Não é bem assim…

Devemos todos entender (e respeitar) a diversidade… inclusive em relação à saúde e à doença. E nunca é demais lembrar que “não existem ‘doenças’ e sim ‘doentes’ ”. Cada um de nós tem uma individualidade biológica e ser profissional de saúde significa também estar atento às necessidades e expectativas de cada um que bate à nossa porta buscando ajuda.

 

Entendo assim ter esgotado o tema floaters, moscas volantes e DPV

 

Para mais informações o tema é amplamente comentado em textos específicos nos links que estão listados à direita desta página.

Moscas volantes…alguns nem percebem, outros não conseguem conviver!

Tão incômodo quanto o extremo desconforto visual é a convivência diária com outros de nós que não podem avaliar o que nunca sentiram ou viram.

Qualquer um entende e consegue avaliar a angústia daquele que tem uma fratura exposta ou um ferimento que sangra ou está com muita febre. Essas são situações que todos já vimos ou sentimos de perto. Não é algo subjetivo.

Você é capaz de ler num carro em movimento? Consegue viajar olhando as paisagens que mudam rapidamente ou mesmo viajar sentado em direção contrária ao movimento da composição do trem ou do metrô? Não tem enjôo em viagens de barco ou navio de pequeno porte? Então você não sabe do que eu estou falando. Esse texto não acrescentará nada a você e não será uma leitura interessante, talvez.

Não é incomum indivíduos que têm enjôo de movimento (“cinetose”) ouvirem desde crianças que são “enjoados, chatos, sensíveis demais ou pessoas “fracas””. É comum e até compreensível: só conseguimos entender ou sentir empatia em relação àquilo que já experimentamos. Por isso nos agrupamos de forma a reunir iguais a nós. Formamos “turmas”, pertencemos a “tribos”: yuppies, nerds, punks, patricinhas/mauricinhos,etc. Também por isso existem os “grupos de ajuda”, na maioria das vezes criados por portadores, parentes e/ou cuidadores de indivíduos com uma determinada doença ou disfunção.

“Se não pode vencer o inimigo, junte-se a ele” é voz corrente e sábio ditado. Conhecer em profundidade o que nos aflige (seja desconforto físico ou emocional) nos ajuda a conviver com. Ignorá-lo é quase sempre impossível!

No caso das “moscas volantes”, me refiro aqui aos 5% dos indivíduos em que os “floaters” se tornam um problema tão importante (porque constante e de difícil solução) que merece ser analisado mais de perto. Em geral são pessoas portadoras de disfunção vestibular periférica inata. Nesses indivíduos a náusea, tonteira e sudorese fria podem acompanhar muitas vezes a tentativa de manter os dois olhos abertos em presença de “floaters” densos próximos ao eixo visual.

Em alguns momentos do dia ou em determinadas atividades discriminativas visuais, artifícios óticos e visuais podem ser de grande auxilio como na leitura, no uso do computador ou mesmo ao assistir TV. Em alguns dias a gente percebe um avanço na tolerância a essa nova realidade visual. Em outros há um retrocesso e nos sentimos bem pior. É um processo…mais lento ou mais rápido.No final das contas depende de cada um de nós.

O que acontece é que chegam ao córtex (cérebro) imagens diferentes enviadas por cada olho (uma com as moscas volantes e outra sem elas). Para um perfeito equilíbrio e ausência total de desconforto seria necessário que as imagens fossem iguais. Ou o mais próximo possível disso. Isso explica por que muitos têm desconforto ao assistir filmes com tecnologia tridimensional (disparidade de imagens para dar sentido de mais uma dimensão), utilizando óculos 3D. Eles referem náuseas, dores de cabeça, tonteira, sensação de cabeça “oca” ou “zonza”. Possivelmente são portadores de alguma disfunção vestibular (inata ou adquirida). Os mesmos filmes vistos através de óculos 2D que eliminam os efeitos em 3D, eliminam também (não por acaso) os sintomas desagradáveis desses indivíduos.

A imagem chega ao córtex para ser processada junto com informações proprioceptivas (ouvido, labirinto, pele) fornecidas por nossos outros sentidos (tato e audição, p.ex.) e imprimir sensação de equilíbrio ao corpo.

No caso das moscas volantes, enquanto não houver adaptação vestibular (labirinto) a essa nova realidade visual os sintomas podem estar presentes. Em maior ou menor intensidade. E é uma questão de tempo… Está na dependência ainda do tamanho da(s) imagem(ens) negativas agregadas  ao campo visual, assim como da proximidade dos “floaters” em relação ao eixo visual e da higidez vestibular de cada individuo.

Ao fator anatomo-funcional agrega-se ainda o fator psicológico. E é aqui eu me pergunto: “o que veio primeiro, o ovo ou a galinha”?

A ansiedade costuma ser característica presente em portadores de cinetose. Seria o “descompasso” do SNA (sistema nervoso autônomo) existente nesses mesmos indivíduos, o fator etiológico comum à ansiedade e aos sintomas do “enjôo de movimento”? Assim como uma irritabilidade excessiva pode estar presente nas fases iniciais da demência (Alzheimer), possivelmente pelo desarranjo seguido de uma reorganização atípica de algumas reações químicas envolvendo neurotransmissores,a plasticidade funcional neuronal (nesse caso positiva)seria responsável pela adaptação à nova realidade visual. Esta adaptação se traduziria na usência de sintomas em vigência de compensação funcional (o organismo vence mais uma vez!).

Mas, o que fazer enquanto isso?

Dois a cinco por cento dos indivíduos têm eventos neuro-vegetativos desencadeados pelo padrão inato de resposta vestibular aos estímulos visuais comuns (vistos pelos dois olhos), quando em movimento (nesse caso o desequilíbrio). Se além disso uma imagem nova, densa, próxima ao eixo visual e apenas percebida por um dos olhos se soma a esta já difícil equação, maior será a dificuldade deste individuo em se manter equilibrado (tanto no aspecto oftalmológico quanto físico e psicológico).

Mãos geladas, suor frio,náuseas, tonteiras, sensação de cabeça “oca ou vazia” e grande irritabilidade são sintomas que temos que aprender a tolerar (inicialmente) e aos poucos evitar.

Algo pode ser feito…mas o tempo continua sendo o melhor remédio. E no processo de ajuste, controlar a ansiedade e afastar-se (na medida do possível) das tarefas discriminativas visuais (leitura, uso de computador, ver TV em sala iluminada, p.ex. e/ou as que exijam alternância constante entre as distancias de longe e perto – pela maior movimentação dos “floaters” dentro dos olhos).

Sabemos que a vida não vai parar para que nos adaptemos à nova situação e depois possamos voltar ao ponto em que estávamos.Trabalho, vida social, família,a dinâmica da vida continua. E nós temos que nos inserir de alguma forma nela mesmo sendo angustiante em muitos momentos. A palavra de ordem é adaptação. E toda ajuda de que pudermos dispor é benvinda.

Óculos com oclusão total de uma das lentes (oclusor de silicone com ventosa), óculos com oclusão seletiva de uma das lentes (parte da lente recebe um película- fita isolante preta ou outro material que vede completamente a luz-  na parte da lente com a qual visualizamos a maior parte do tempo o floater que nos incomoda (mais à direita do centro,mais à esquerda, ou acima,etc).

Outra opção é usar o artifício de desenhar na lente imagens similares aos floaters para “iludir” o cérebro e minimizar o incomodo. Quando ele(s) se movimentar(em) (que é quando fica mais difícil de ser(em) tolerado(s), outras fibrilas desenhadas nas lentes reduzirão a percepção do movimento deles.

Existem muitas variações possíveis (do ponto de vista ótico) em relação a como minimizar a sensação de desconforto visual e vestibular. Nenhuma delas corresponde por si só a alternativa única a ser utilizada em cada caso.  Segundo observação durante as experimentações que fiz, a alternância entre os artifícios óticos, de acordo com a tarefa visual, foi a melhor forma de ter maior conforto no período inicial, logo após o episodio agudo de DPV.

Experimentei todas. Algumas me deram alivio em determinados momentos…em outros não. Existiram (e existirão ainda) dias melhores e dias piores. Nenhuma das medidas terapêuticas é eficiente o tempo todo nem satisfaz plenamente. São medidas paliativas, enquanto a natureza (organismo) tenta fazer o reparo da melhor forma possível.

A vitrectomia é um procedimento invasivo que parece bastante atrativo e “salvador”, à primeira vista. Ela eliminaria completamente as moscas volantes: a aspiração dos floaters removeria a causa dos fenômenos entópticos e devolveria a normalidade visual ao individuo. Fácil assim?

Existem riscos e benefícios… Afinal, é como tudo funciona, não é mesmo?

Não existe apenas bem ou mal. É tudo um pacote, um “combo”. O que prevalecerá ao longo do tempo ninguém sabe. A emenda será pior do que o soneto? Não saberemos se não experimentarmos, dirão uns e outros… Hoje eu ainda não quero pagar para ver.

Pode ser que com mais tempo de incomodo me exaspere e acabe me submetendo à vitrectomia a despeito dos possíveis efeitos colaterais. Quando (e se) o fizer será apenas após ter dado tempo suficiente ao organismo (e à homeostasia) para desenvolverem uma possibilidade de reequilíbrio visual.

Existe tempo para tudo. Nascer, crescer, adolescer, ficar adulto, dar origem a outra vida e assim por diante. Sempre podemos de alguma forma alterar a ordem das coisas, claro, mas em relação aos mecanismos naturais de manutenção da saúde e prevenção das doenças, tudo tem seu tempo certo e a ordem dos fatores pode alterar sim o produto final.

Por mais atraente que nos pareça o rápido retorno à “normalidade”, sempre haverá um preço a ser pago. E talvez não estejamos preparados para uma eventual situação bem pior do que a original. Em outras palavras, “a emenda pode sair pior do que o soneto”, no longo prazo.

Do ponto de vista da binocularidade e do conforto visual voltei a engatinhar. Espero estar correndo logo, logo!

Essa reflexão a respeito dos floaters se deveu à necessidade de dividir com outros uma experiência pessoal recente. Espero que lhes seja de alguma ajuda!

Moscas volantes…como lidar com elas?

Ainda sobre moscas volantes…

A quem interessar possa esse é um relato pessoal a respeito da necessidade de lidar com o desconfortável sintoma das “moscas volantes”, logo após o DPV (descolamento posterior de vítreo) agudo.

Como não tenho nenhuma lesão retiniana (degeneração periférica de risco para descolamento de retina) que possa justificar a rotura retiniana que deu inicio aos meus sintomas creio que a seqüência abaixo descreve melhor a sucessão de eventos que levaram ao meu DPV agudo (com hemorragia vítrea secundária à rotura retiniana).

Devido a um acidente de carro (aos 18 anos) tenho DPV total assintomático (98% do tempo) no olho direito. Como já tenho 59 anos não é incomum a liquefação vítrea. Nesse caso o rearranjo do gel em fibrilas pode ser resultar em grumos mais ou menos densos que acabam vez por outra atravessando o eixo visual e incomodando transitoriamente a visão. Isso se dá de forma lenta e gradual e na maioria das vezes o indivíduo só percebe os “floaters” quando presta atenção e busca ativamente por eles ou quando está muito ansioso e/ou tenso.

Em casos de DPV agudo em que se formam condensações mais densas e bem próximas ao eixo visual é mais difícil a recuperação funcional.A visão binocular é requerida o tempo todo e o incômodo da imagem negativa (floater) móvel, próxima ao eixo visual ou dentro dos 10º centrais do campo visual, pode ser extremamente desconfortável para não dizer incapacitante. Principalmente nos indivíduos que são portadores de “enjôo de movimento” ou cinetose em que paralelamente ao desconforto visual podem acontecer náusea, tonteira e sudorese fria, reproduzindo em parte os sintomas da disfunção vestibular periférica da qual são portadores.

Muitos pacientes perguntam aos médicos por que “do nada surgiram os sintomas”…? Difícil responder na medida em que todo e qualquer evento orgânico pode ser o “trigger”, o desencadeador da mudança na estrutura do corpo vítreo, além do próprio envelhecimento.

Bem, quatro meses antes do DPV tive um episódio de extrema fadiga, astenia e estado febril que me deixou prostrada por quatro dias. Não havia nenhum sinal característico de virose respiratória (espirros, coriza, tosse ou congestão nasal). No quinto dia amanheci muito bem disposta e então fui ao médico. Fiz raios X de tórax e exames de sangue. Diagnosticada uma pneumonia e com todos os marcadores hepáticos alterados indicando alteração hepática. Então a recomendação foi de mais uma semana de repouso.Depois disso eu já estava pronta para voltar à ativa.

Mas dois meses depois comecei a perceber flashes à noite. Eles foram aumentando em intensidade e três semanas depois, subitamente aconteceu o DPV. Em resumo, provavelmente o estado infeccioso (causou uma vitreite leve que acelerou a liquefação e desestruturação das fibras de colágeno do corpo vítreo.

A reorganização do colágeno forma fibrilas que tomam formas as mais diversas, soltas ou agrupadas, que se movem e flutuam dentro do globo ocular a cada movimentação dos olhos. Quando o vítreo se solta completamente das suas inserções o DPV é dito total. Mas na maior parte das vezes ele (DPV) é parcial e podem existir micro adesões à retina e/ou ao próprio disco óptico.

Quando alguns desses pontos (micro adesões) permanecem ligados à retina elas, além de serem responsáveis pelos “flashes” quando tracionam a retina durante o movimento dos olhos, se as fibrilas condensadas se mantém posicionadas bem próximas ao eixo visual, atrapalham a visão e podem incomodar muito o indivíduo.

Ao retinólogo cabe tratar a rotura retiniana (laserterapia), minimizando o risco de um descolamento de retina (e conseqüentemente evita uma baixa visual importante). Além disso, monitorizar  sistematicamente eventuais pontos de tração (percebidos como “flashes”). Isso é o que ele (retinólogo) pode fazer. E faz muito bem!.

Mas, e quando os sinais e sintomas visuais não desaparecem? E em relação às “moscas volantes” (no eixo visual ou para centrais) que dificultam a leitura, o uso do computador ou qualquer outra tela em ambiente iluminado? O estresse aumenta a percepção dos “floaters” e o incomodo visual aumenta a ansiedade e o estresse. Um círculo vicioso… O que pode ser feito enquanto as traves não se rompem e pelo efeito gravidade se depositam no segmento inferior do globo ocular e então passam a não interferir constantemente nas atividades diárias?

E de quanto tempo estamos falando aqui? Podem ser dias, meses… Cada caso é um caso.

A gente fala (para o paciente) e ouve do médico (enquanto paciente) que…vai passar…é uma questão de tempo…”  “Não se preocupe e aprenda a lidar com a usa nova realidade”. “Procure não se estressar, se for necessário use um ansiolítico e/ou procure um profissional (psicólogo ou psiquiatra) para ajudá-lo nesta etapa”

Essa é a orientação que a maioria de nós, médicos, dá ao seu paciente com DPV agudo com  sintomatologia intensa e incapacitante.

Mas a vida segue e a necessidade de retomar a rotina é iminente. O que mais pode nos ajudar nessa fase transitória (ainda bem! Ufa!) em que esperamos que a natureza aja e nos “cure”? Essa é uma espécie de fase de convalescença. O que fazer, quais as possibilidades?

Além do sintoma visual (“mosca volante”) e da irritabilidade e ansiedade que ele gera, nos indivíduos portadores de cinetose (“enjôo de movimento”), a situação pode levar a um componente sintomático extra: o enjôo (ou estado nauseoso), quando os olhos são submetidos a atividade motora  de movimentação excessiva como na leitura, com o vaivém dos olhos para acompanhar as linhas do texto. Assistir TV por duas ou três horas é totalmente diferente de alternar a visão de perto e a de longe a cada instante, pelo mesmo tempo de duas ou tres horas. Um exemplo é quem trabalha muito com a visão de perto, mas tem que interagir com outros indivíduos ao mesmo tempo. Ele olha para frente e para baixo, para perto e para longe ininterruptamente. Impossível nessa fase, a não ser que se mantenha ocluído o olho com floaters e o individuo tenha uma rápida adaptação à condição monocular. Para alguns isso é tão difícil de suportar quanto os floaters no eixo visual com alternância constante da visão perto/longe.

Esses mesmos indivíduos que costumam apresentar hiper-reatividade autonômica, muitas das vezes são portadores (também) de migranea (enxaqueca) podendo apresentar perfil ansioso e tendência à depressão e pânico. Tudo faz parte de um “pacote”, inato e evolutivo  (caso ele, indivíduo, não consiga modular esse tipo de comportamento ao longo da vida). Ou seja, se não aprende a conviver com suas “diferenças” em relação ao demais indivíduos. Afinal, cada um aprende a identificar “onde aperta o seu calo” e viver de forma a minimizar os inconvenientes do DNA que cada um traz consigo à vida.

Existem recursos ópticos (óculos ou lentes de contato) que podem ser de alguma (ou muita) ajuda nessa fase. Aqui novamente, cada caso é um caso. O diâmetro da pupila, a exata localização do “floater” que mais incomoda e em que direção do olhar ele parece estar anulado são dados importantes a serem levados em consideração para melhor ajudar o indivíduo a aliviar seus sintomas.

 

É interessante a ajuda sim, mas sabendo que é um recurso temporário e não significará conforto total. Pode ser de grande ajuda no sentido de criar uma situação que, se não é a ideal, pelo menos nos ajudará a nos mantermos ativos e mais confortáveis no dia a dia durante esta fase.

Tanto óculos como lentes de contato especiais podem gerar alguns inconvenientes que devem ser discutidos com o médico assistente e avaliados caso a caso. E podem ser de grande alívio em alguns momentos (não todos, infelizmente).

Resumindo, nesse momento em que já foi feito diagnostico e tratamento da lesão anatômica (pelo retinólogo), para alguns de nós será necessária ainda a intervenção de outros profissionais para a retomada de um dia a dia mais confortável. Oftalmologistas e óticos para a melhor solução ótica, otorrinos e/ou fisioterapeutas (reabilitação vestibular) para possível ajuda em relação a náusea  e/ou tonteira, psicólogos e/ou psiquiatras para ajudar a minimizar a ansiedade.

Alguns desses recursos podem ser de grande ajuda. E mesmo que apenas uns poucos tenham uma sintomatologia tão florida quanto a descrita acima e sintam extremo desconforto e dificuldade na reabilitação visual, é para esses poucos que fiz este relato. E espero sinceramente tê-los ajudado a entender e aprender a contornar alguns sinais e sintomas gerados pelo DPV, situação clínica tão comum a todos os indivíduos, mas que gera bem mais desconforto a alguns poucos.

Fale com o seu oftalmologista. Ele será seu parceiro nesta empreitada!

E não se esqueça que teve sorte, não descolou a retina e manteve a sua acuidade visual. Apenas terá um desconforto por um período de tempo variável. Lembre-se sempre que poderia ter sido bem pior! Não se queixe tanto… arregace as mangas e procure o melhor ajuste para conseguir administrar melhor esse período.

Você vai melhorar!

DPV …como lidar a longo prazo


DPV parcial agudo…monitorizar e tratar,quando necessário.

 

A história natural de um descolamento posterior de vítreo (DPV).

Como vimos em outros posts aqui neste blog, em qualquer idade pode ocorrer o DPV. As degenerações periféricas retinianas são pequenas alterações no aspecto –e características- do tecido retiniano, nas áreas distantes do pólo posterior (centro) do olho. Quando presentes e dependendo do tipo e da localização da degeneração, podem implicar em necessidade de controle mais freqüente do DPV através de mapeamentos de retina seqüenciais. O risco seria a formação de pequenos buracos na retina que, uma vez detectados e avaliado o potencial de progressão para lesões maiores, teriam indicação de tratamento a laser (fotocoagulação) para prevenção de descolamento de retina.

Uma outra abordagem é a que avalia a presença de  tração vítreo-retiniana . A ultra-sonografia ocular auxilia o retinologo na avaliação da tração no DPV. Em presença de tração, se avaliações repetidas não sinalizam redução de tensão na interface vítreo-retiniana a conduta a ser discutida é a intervenção médica através de vitrectomia (procedimento invasivo).

Isto porque a tração implica em risco de descolamento de retina ou hemorragia vítrea (por rotura de vasos retinianos tracionados). O tratamento de ambas apresenta um prognóstico mais reservado do que a intervenção pontual na tração vítreo-retiniana  que não mostra sinais de redução expontanea.É sempre bom lembrar que quanto menos intervirmos cirurgicamente nos olhos menores as complicações esperadas a curto , médio e longo prazo. Mas é sempre uma questão de bom senso,excelente tirocínio clinico, acompanhamento criterioso (cada caso é um caso) e avaliação custo-benefício.

A área macular (região retiniana nobre, responsável pela visão central, ou seja, a visão de detalhes,aquela que define a nossa capacidade visual) está situada no polo posterior do globo ocular.

Vale lembrar que a tração que existe na alteração da interface tecido retiniano/corpo vítreo quando presente implica em longo prazo em alterações estruturais que podem levar a espessamento do tecido,formação de cistos e buracos na macula que, dependendo do tipo e extensão, podem diminuir bastante a visão.

A monitorização vítreo-retiniana deve obedecer a um protocolo determinado pelo retinólogo que acompanha cada caso. A constatação pura e simples (através de mapeamento de retina) de ausência de sinais de risco para descolamento de retina após um DPV parcial agudo, uma única vez, não é o correto.

Mesmo quando parcial o DPV na maioria das vezes não é acompanhado de tração vítreo-retiniana, mas ela deve ser ativamente buscada em avaliações subseqüentes. E, se presente, monitorizada e tratada, quando e se necessário.

 

Consulte regularmente o seu oftalmologista!

Conheça mais sobre sensações visuais incomuns…

Fotopsias, flashes, escotomas cintilantes e espectro de fortificação

 

Como o post mais visitado no blog continua sendo a respeito de moscas volantes, fotopsias e flashes,resolvi publicar a resposta a uma internauta que fez um comentario ilustrando bem o que sente e o que preocupa um individuo que passa a perceber alterações visuais incomuns.

Neste caso em especial provavelmente devido a alterações hormonais da gravidez. Espectro de fortificação ( ou aura) é o nome que se dá ao conjunto de sinais e sintomas visuais que podem anteceder uma crise de enxaqueca ou  que sinaliza a existencia de uma “migranea (enxaqueca) sem dor”…em que está presente apenas o fenomeno visual, informando a baixa oxigenação encefálica temporária, causada pela vasoconstricção caracteristica. Mais abaixo no texto ela mesma explica por que entende que os sintomas atuais não se devem à sua enxaqueca com aura…

 

Ela disse:

 

“Esses pontos brilhantes passaram a “estacionar” no canto do meu olho (próximo ao nariz) e formando um ponto grande e brilhante (acho que um escotoma cintilante, sei lá), fico muito nervosa quando acontece e saio do computador, vou caminhar, e esse negócio fica lá por uns 10 segundos, e depois que pisco, movimento e fecho os olhos esse troço some. Aconteceu umas três vezes nas ultimas semanas, apenas no olho esquerdo”.

 

Se tem aparecido apenas em um dos olhos, mais um motivo para retornar ao oftalmologista e refazer seus exames oftalmológicos!

 

“Já me disseram que esses pontinhos brilhantes na visão poderiam ser pressão alta, mas não acho que seja, pois passei a monitorar minha pressão e está sempre normal. Já me citaram até labirintite, o que pode ser também, pois vivia com tonturas antes da gravidez, e agora fica difícil saber se estou tonta porque tenho labirintite ou por causa da gravidez. Pretendo ir ao otorrino logo também”.

 

Alguns individuos que têm enxaqueca podem apresentar, desde crianças, sintomas relacionados ao equilíbrio. Como enjoar ou  ficar tonto ao tentar ler num carro em movimento. Ou se sentir mal ao andar de costas (contra o sentido do movimento do veiculo (numa van ou ônibus). A isso se dá o nome de “enjoo de movimento” ou cinetose ou “motion sickness”. Em determinadas ocasiões essa desordem do equilíbrio fica exacerbada.

 

“Isso que sinto está relacionado aos olhos ou é sintoma de algum outro problema?”

 

O oftalmologista só poderá  afastar causa oftalmológica para suas queixas após nova e criteriosa avaliação que incluirá (novo) mapeamento de retina e US (ultra-sonografia globos oculares), além de verificar se existe alguma alteração na acuidade visual, na visão de cores (teste Ishiara é o mais comum e simples). Um campo visual computadorizado poderia ser incluído.

Se nenhuma alteração for observada você  deverá ser encaminhada a um bom clinico geral e um neurologista. Desregulações vasculares podem ser responsáveis por alterações no sistema nervoso simpático e tonteiras e “alucinações visuais” transitórias podem fazer parte do quadro. Pergunte ao seu obstetra, clinico e/ou neurologista  se, como migranosa (enxaquecosa) que é,  estas alterações poderiam se intensificar (ou mudar a forma de apresentação) com a gravidez.

E calma, se for o caso, não sinalizam risco maior. Apenas você deve ser avaliada com maior freqüência.
“Tenho enxaqueca com aura, mas esses pontos não são da aura, eu acho, porque só enxergo tais pontos com os olhos abertos e um olho por vez, diferente da aura que enxergo as linhas brilhantes piscando com olhos abertos ou fechados e nos dois olhos. Além do mais, esses pontinhos brilhantes são passageiros, aparecem e somem de repente, já a minha crise de aura dura uns 20 minutos”.

 

Existem várias possibilidades para esses “pontinhos brilhantes”. Uma delas é a mudança de característica da migranea na gravidez (devido à alteração hormonal). São relatados vários tipos de enxaqueca na literatura e muitas formas da aura se manifestar. Os “escotomas cintilantes” citados podem estar presentes na hipertensão arterial,sim. Mas costumam se apresentar acompanhados de enjoo e/ou desconforto na nuca. Mas são descritos por este nome em alguns blogs referindo-se à uma das formas de apresentação da “aura”.

Ler na integra artigo sobre enxaqueca no link http://oftalmoneuro.blogspot.com/2007/06/enxaqueca.html (A aura pode se constituir de pontos claros ou escuros, ziguezagues, embaçamentos, imagens em ouebra-cabeças, escotomas cintilantes, visão em túnel, hemianopsias homônimas, hemianopsias altitudinais, ou um espectro em muralha).


Em resumo, se a causa não for oftalmológica, deve buscar a desregulação vascular como principal causa (seja ela devido à própria migranea,alterada pela gravidez,seja alteração do sistema nervoso autônomo secundário às condições da gravidez ou outras a serem avaliadas). Lembrar que em mulher jovem, tonteira ou sintomas do tipo “labirintite” podem  estar relacionados à tireóide.

 Nunca é demais lembrar que  é preciso uma avaliação do seu oftalmologista e de médicos referenciados por ele (neurologista e/ou otorrino) depois da avaliação e se for afastada causa oftalmológica para os sintomas.

As informações contidas neste blog não substituem avaliação médica que é sempre necessária e imprescindível!

O objetivo aqui é tão somente informar o individuo para que ele possa ser pró-ativo, conhecer  as formas de adoecimento,entender como se processam as alterações organicas e ajudar seu médico a tratá-lo.

A informação para leigo  é instrumento útil para orientá-lo e tentar esclarecer suas dúvidas. Tão somente!

Flashes e fotopsias. Eu tenho…então o que fazer?

 

As moscas volantes são queixas comuns de pacientes em consultorios oftalmologicos. O relato de flashes,fosfenos ou impressões visuais luminosas (clarões de luz,luzes piscando ou qualquer outra forma de referencia) é muito frequente também.
Na prática o que é preciso fazer é mapear a retina em busca de possiveis degenerações periféricas de risco para o descolamento de retina.Na ausência delas ou, se presentes, forem de baixo risco não há com o que se preocupar em relação aos olhos. Na ausência de outros sintomas convém fazer um mapeamento anual para monitorizar a retina e o DPV (descolamento posterior de vitreo) provavelmente associado.
Caso não existam sinais oftalmológicos que justifiquem a presença dessas alucinações visuais, um neurologista deve ser consultado. Não devemos esquecer também que alguns medicamentos apresentam como efeito colateral a presença de sensações luminosas percebidas a partir da utilização da droga.

Procure o seu oftalmologista!
Se a visão está normal e não há nenhum outro sinal ou sintoma oftalmológico (perda súbita ou transitória da visão, embaçamento transitório durante o exercício ou sauna), após um mapeamento de retina e uma ultra-sonografia de globos oculares negativos estará afastada a causa ocular.
Nesse caso você deve investigar os medicamentos que estão em uso e buscar um neurologista para conversar sobre os seus sintomas. Alterações vasculares encefálicas podem existir e devem ser afastadas como causa provável dos seus sintomas.
Mas calma!
Não pense em situações mais graves… deixe que o seu médico conduza a investigação. Na grande maioria das vezes não se encontra causa para esses sintomas. Então não se precipite.

 

Apenas faça a sua parte: procure o especialista!

Flashes,fosfenos,sensações visuais incomuns e medicamentos…uma relação mais que possível!

Flashes,fosfenos,sensações visuais incomuns e medicamentos …uma relação mais que possível!

Novos medicamentos surgem a todo momento.A velocidade da produção cientifica e a utilização na prática diária dos inúmeros novos medicamentos nas várias especialidades torna quase impossível ao médico estar cem por cento a par de efeitos colaterais destas novas drogas, a não ser que ela seja usada em sua prática diária, ou seja, na sua própria especialidade.

Como oftalmologista,ao fazer recentemente uma pesquisa em relação à droga trimetazidina (utilizada mais comumente em cardiologia),fui surpreendida com um efeito colateral ocular freqüente relacionado a esta droga.

Tem aumentado muito a busca por informação médica por parte do leigo. A internet oferece esta oportunidade e esta transferência de conhecimento tem tido um impacto positivo na relação médico-paciente,desde que bem estabelecida  e validado o recurso on line.

Neste blog publiquei alguns posts falando sobre uma queixa muito comum que são as impressões luminosas,quaisquer  que sejam as formas e nomes pelos quais as conheçamos: flashes e fosfenos (na nomenclatura médica) e  clarões ou raios luminosos ou diversas outras formas descritivas de alguma forma de percepção luminosa na ausência de focos luminosos que as justifiquem. Por isso as chamei de “impressões luminosas” .

Ocorre que a tal medicação (TRIMETADIZINA) exibe um percentual elevado de relato de fosfenos (como descrito na bula).É o efeito colateral mais comum (embora não seja o mais grave,claro).

Então fica aqui o alerta: esta é uma causa freqüente de aparecimento de flashes ou fosfenos sem que haja nenhuma alteração anatômica retiniana,nenhuma distrofia ou buraco que signifiquem risco para descolamento de retina (DR). Os flashes de origem retiniana são importantes sintomas que devem ser avaliados o quanto antes para reduzir o risco de DR através de tratamento precoce da causa. Ela é geralmente uma distrofia do tecido retiniano com presença de alguma pequena tração ou mesmo um orifício que devem ser monitorizados devidamente pelo oftalmologista para a prevenção do DR.

Mesmo os pacientes em uso desta droga (trimetadina), prescrita na maior parte das vezes como parte do arsenal terapêutico utilizado nas anginas (pectoris) e outras formas de isquemia dos tecidos (miocárdico,cerebral e outros) devem realizar um mapeamento de retina (MR)para afastar causa retiniana.

Apenas após um exame oftalmológico negativo poderemos considerar os sintomas como efeito colateral da droga. E caso após algum tempo de uso (em torno de 2 a 3 meses) o sintoma permaneça, o medico assistente deverá ser consultado a respeito do risco-beneficio de continuar a droga.Muitas das vezes o paciente deixa de perceber essas faíscas ao longo do tratamento.

Alucinações visuais ou sensações visuais anormais são relatadas como efeitos colaterais referidos por indivíduos em uso de um percentual elevado de drogas (mais de 50). Por isso a busca por informações relacionadas a este tipo de sintoma é muito grande.O post mais visitado no meu blog é o referente a essas alterações visuais.

Então para esclarecer: apesar de muito comum, essa queixa visual precisa ser avaliada do ponto de vista oftalmológico antes de ser pensada como de qualquer outra etiologia (causa), inclusive efeito colateral de medicação em uso.

Outras dúvidas a respeito consulte o conteúdo do blog  e os vários links  para instituições e serviços de conteúdo informativo em oftalmologia para leigos.