diagnóstico de glaucoma

Entendendo o glaucoma…

Respondendo a um internauta cujo relato não é muito diferente de alguns outros que ouvimos com alguma freqüência, infelizmente.

Tentando entender…
“Sou um portador de glaucoma (pelo menos é o que dizem os oftalmologistas), há seis anos. Ocorre que já passei por dezenas de especialistas e TODOS ELES, por alguma razão que ainda não conheço, evitam discutir abertamente sobre o que realmente está ocorrendo. Evitam informar até qual é a pressão que acabaram de medir. Mudam de conversa quando se pergunta qual seria a pressão normal para nós, etc.Tive recentemente um acidente em um dos olhos (uma espécie de derrame que deixou minha vista praticamente inutilizada), que acabou tornando minha situação muito mais confusa, pois alguns médicos dizem que tem relação direta com o glaucoma,enquanto outros dizem que não. Moral de minha história: Está muito difícil confiar nesses profissionais!”

Uma historia e tanto, amigo!
Vamos conversar a respeito?

Você não tem certeza de ter glaucoma… Mas muitas vezes o diagnóstico em Medicina é de suspeição. Não pode ser comprovado, em alguns casos, exceto pelo exame histo-anatomo-patologico. Em alguns pacientes, quando a pressão intra-ocular não é muito alta (não está muito além do ‘padrão’ 12 a 18mHg já corrigida pela paquimetria corneana), a lesão campimétrica  (um dos exames alterados no glaucoma) às vezes pode ser difícil de ser distinguida de uma neuropatia óptica não glaucomatosa ou uma lesão isquemica cerebral. Nesses casos o diagnóstico diferencial é difícil de ser feito e pode levar algum tempo para a certeza que virá apenas com a monitorização através de exames complementares. Mas durante este período, e até prova em contrário, a PIO deve ser reduzida através de medicamentos anti-glaucomatosos.

Os médicos evitam informar a pressão que acabaram de medir… Talvez para você não ficar ansioso cada vez que vai ao oftalmologista nem tirar conclusões precipitadas a respeito de melhora ou piora do quadro apenas baseado em uma medida isolada.

Mudam de conversa quando se pergunta qual seria a pressão normal… Talvez por que não queiram deixar você com mais dúvidas, até porque você já deve saber que não existe pressão normal e sim pressão normativa para cada individuo. Cada caso é um caso. Existem inclusive casos de doença glaucomatosa que cursam com pressão intra-ocular normal ou baixa.

Espécie de derrame… Talvez você esteja se referindo a uma trombose de veia central da retina que acontece mais comumente em hipertensos arteriais e/ou diabéticos e sugere relação com o glaucoma devido a alterações microvasculares no disco óptico. Como hoje a teoria vascular sobre o glaucoma está cada vez mais sendo discutida (e aceita), faz sentido pensar que olhos com hipertensão ocular por glaucoma crônico de ângulo aberto sejam olhos de risco para desenvolver a OVCR (oclusão – ou trombose- de veia central da retina). As duas patologias têm provavelmente a mesma etiologia (ou uma das…).

Moral da historia:

Está mais do que na hora de você tomar o controle da sua doença (e da sua saúde), procurar mais uma dezena de oftalmologistas se for preciso, até que encontre algum com quem desenvolva uma relação médico-paciente suficientemente boa a ponto de se sentir à vontade para colocar suas dúvidas e apreensões!

Se for ajudar e se você se interessar por conteúdo informativo a respeito do glaucoma, aqui neste blog acesse  a caixa de pesquisa e digite a palavra glaucoma. Os posts  que podem ser interessantes no entendimento de alguns aspectos da doença glaucomatosa são:

“Você sabe como se diagnostica o glaucoma?”
“Fatores determinantes no tratamento anti-glaucomatoso”
“Objetivos do tratamento do glaucoma”
“O glaucoma e a pressão intra-ocular”

Além disso pode encontrar muito mais conteúdo nos links fornecidos na homepage,à direita da pagina!

 

 

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A angústia da incerteza…eu tenho glaucoma?

Relato de internauta sobre a ansiedade do diagnóstico de glaucoma.Em negrito o relato e logo abaixo comentario a respeito.

…Porém a médica quando fez o exame de fundo de olho observou uma escavação no nervo óptico e me questionou se eu tinha alguém na família com Glaucoma. Fiquei desesperada pois não tenho ninguém da minha família com essa doença e tenho apenas 30 anos.Ela pediu que eu fizesse uma campimetria e uma retinografia.A campimetria deu normal porém a retinografia deu uma escavação de 0,5 no olho D e 0,4 no OE e mais nenhuma alteração. A pressão do meu olho também esta normal.Levei o resultado para a médica e ela me disse que está tudo normal que eu tenho que voltar à consulta só daqui a um ano.Estou angustiada! Um ano sem nenhum tratamento… e se for glaucoma bem no inicio e se essa escavação aumentar! Um ano pode ser muito tempo! Me esclareça isso.Teria outro exame que eu possa fazer fora os que eu já fiz que possam diagnosticar o glaucoma bem no inicio?

Quanto ao glaucoma, vamos esquecer um pouco a doença em si e falar sobre estatísticas médicas e prevenção, ok?

Nós médicos cumprimos o nosso papel quando ao analisarmos cada individuo, observamos todos os fatores de risco pertinentes a cada doença degenerativa (que acontece mais freqüentemente com o passar dos anos, no envelhecimento do organismo) conhecida e/ou mais comum. Com certeza é isso que se espera de nós. Até para podermos orientar o paciente no sentido de como evitar ou retardar aquele processo mais comumente visto em outras pessoas como ele (ou melhor, com aquelas características -ou sinais- que estatisticamente são mais prevalentes, mais comuns nos portadores das doenças analisadas).

A idéia não é gerar pânico! Pelo contrário… é ajudar.

Mas como muitas vezes nos atemos à investigação (propedêutica) médica e nos esquecemos de inserir a informação no contexto em que ela deve ser analisada, vocês, pacientes, ficam com mais dúvidas do que tinham antes da consulta e por vezes, amedrontados. O medo é o pior inimigo da prevenção porque ele gera ansiedade, que por sua vez aumenta o risco do adoecimento (ansiedade é pró-inflamatória e hoje sabemos que o “estado inflamatório do organismo” é a base do adoecimento desde a esclerose vascular até o câncer).

Saber que somos portadores de alguns fatores de risco para determinadas doenças deve servir como alerta e despertar em nós a vontade de conhecer mais a respeito de como retardar ou evitar o aumento do risco, através de intervenções permanentes no estilo de vida de cada um. Se eu fosse você pensaria em como reduzir meu risco por exemplo aumentando a atividade física, me informando como evitar a doença vascular (parceira do glaucoma) e a ansiedade exagerada.

Hoje o determinismo genético foi substituído pela consciência de que não apenas os gens (no seu caso o tipo de nervo óptico) definem o adoecer ou não. Os fatores ambientais externos e internos (qualidade de vida de cada um) têm uma grande parcela na prevenção ou aceleração das doenças.

Além do mais, os exames definem a existência da doença, mas o intervalo entre saúde e doença é maior do que podemos supor e é aí que perdemos tempo analisando apenas a presença definida e irrefutável da doença, quando poderíamos tê-la retardado ou evitado com medidas para contrabalançar o quesito negativo e transformá-lo apenas no que é em realidade: um único fator de risco em meio a vários outros e que pode ser minimizado através de muitas outras intervenções. O bom senso é sempre o caminho do meio: o equilibrio.

Fazer exames para ter um diagnóstico precoce, sim. Mas principalmente entender e fazer o que for preciso para evitar a doença.

A campimetria e a retinografia solicitados pelo seu médico têm o objetivo de estabelecer um parâmetro basal para futuras comparações que servirão para identificação do momento em que se confirma a doença (através de mudanças nos exames). Mas não significa que necessariamente você terá este diagnostico. E lembre-se: um único exame não faz diagnostico nenhum, não existe exame melhor ou mais sofisticado. O conjunto de informações dos vários exames disponíveis (campo visual, avaliação do nervo óptico e retinografia, PIO, curva tensional diária, teste de sobrecarga hídrica e exames de imagem do nervo -HRT e/ou OCT) é que esclarece se existe ou não doença. Não se medica um individuo porque o campo visual ou o OCT mostra alguma alteração. O acompanhamento é a única forma de o médico ter certeza de que você precisa de tratamento ou não.

Imagine se toda filha cuja mãe teve câncer de mama fizesse mastectomia para “evitar” a doença…ou que toda mulher com ovários policísticos fosse medicada com hipoglicemiantes para tratar um diabetes que ela ainda não tem apenas porque estatisticamente elas têm fator de risco maior para desenvolver resistência à insulina (com a idade).O que se deve fazer, em ambos os casos é informar a respeito das possibilidades e contribuir para que a mulher conheça os riscos e ajude a adotar estratégias preventivas. Parece pouco… mas é o que deve ser feito.

Fazendo uma analogia, se me permite, nós deixamos de viver alegrias e ter sensações boas e momentos intensos, mesmo sabendo que somos mortais e não tendo a menor idéia de quanto tempo viveremos (cada um de nós)? Não… apenas vivemos um dia de cada vez, da melhor forma que encontramos e fazendo o possível ( e que está ao nosso alcance) para prolongar nossa vida,não é mesmo?

Portanto o meu conselho a você só pode ser um!

Mantenha-se saudável, visite regularmente seu oftalmologista e tente (mesmo!) manter a ansiedade longe da sua vida,ok?

 

Leia também neste blog     “A hipertensão ocular de hoje será o glaucoma de amanhã?”   no link abaixo:

https://elizabethnavarrete.com/2012/04/

 

 

Afinal, eu tenho ou não tenho glaucoma, doutor?

Hipertensão ocular ou glaucoma?

ou ainda…

Normotensão ou glaucoma de pressão normal?

A dificuldade diagnóstica existe quando não há hipertensão ocular ou ela é o único fator de risco identificado, sem nenhum dado relativo à perda funcional. Nesses casos indefinidos, prefiro monitorizar de perto (avaliações quadrimestrais, por exemplo, com campos visuais e curva tensional diária) e observar a evolução, o surgimento de novos sinalizadores de risco ou a modificação dos fatores conhecidos, antes de confirmar o diagnóstico. Tentar identificar fatores sistêmicos que possam contribuir para elevação pressórica também é necessário.

A partir de um conjunto de dados, o oftalmologista tem um tempo definido para observar bem de perto a evolução de cada caso e determinar com mais segurança o risco individual a cada momento. Dois anos é o prazo que dou a mim e aos meus pacientes, salvo situações de alto risco. A intervenção medicamentosa antes deste prazo significará, necessariamente, a identificação de risco elevado para desenvolvimento da perda de fibras nervosas e então nos permitirá o diagnóstico de glaucoma, mesmo que ainda não exista perda funcional, ou seja, mesmo que o campo visual ainda se apresente “normal”.

A pressa em rotular o indivíduo de glaucomatoso ou a demora em identificar o momento em que se deve intervir podem ser igualmente danosas em relação ao longo prazo evolutivo da neuropatia óptica crônica progressiva.

Deveríamos nos ocupar cada vez mais da prevenção do que do tratamento da doença. Enquanto somos jovens podemos fazer muito pelo nosso organismo. Medidas simples podem fazer toda a diferença no futuro. A conscientização para a saúde deve ser prática do dia a dia nos consultórios médicos, hoje. É somente desta forma que conseguiremos mudar as estatísticas futuras, no que diz respeito ao binômio saúde-doença.

Portanto, identificar os indivíduos de risco para desenvolver o glaucoma deve servir para orientar o paciente quanto à necessidade de acompanhamento mais freqüente dos nervos ópticos e da pressão intra-ocular. A ansiedade por parte do paciente só existe na medida em que ele desconhece o funcionamento do organismo, quando não informamos a ele o que significa e como controlar a PIO e os outros prováveis fatores relacionados ao desenvolvimento da neuropatia óptica glaucomatosa.

 

Lidando com a indefinição diagnóstica

 

A forma saudável de lidar com a indefinição diagnóstica é o comprometimento com a saúde.

Se você foi beneficiado com um cenário de dúvida a respeito do diagnóstico de glaucoma e entendeu a relação entre a pressão ocular e a manutenção da higidez das fibras nervosas; se já sabe que para cada pessoa existe um nível pressórico (PIO) considerado ideal e que apenas a avaliação e reavaliação freqüentes poderão determinar qual pressão máxima tolerável para cada individuo, acalme-se!

Você já sabe tudo o que precisa saber por agora…

Tudo será feito para melhor identificar e minimizar os fatores de risco envolvidos no seu caso. Os objetivos serão claramente definidos e informados a você! A  melhor estratégia para lidar com qualquer situação médica é buscar entender o que acontece, confiar na sua capacidade de identificar no médico as qualidades necessárias para uma boa e promissora relação médico-paciente e se comprometer com a (própria) saúde.

Outro cenário…

 

Acabou a ansiedade de ser diagnosticado? Não se preocupe,o glaucoma é doença controlável. Mas, comprometa-se com o seu bem estar. Tão ou mais importante que o diagnóstico, a adesão ao tratamento será o fator (modificável) que ditará a evolução, em cada caso. Se você precisa da medicação, seja responsável e faça a sua parte. Se algum inconveniente perturba você, seja franco com seu médico. Relate efeitos colaterais indesejáveis e a troca do medicamento será feita. Se hoje podemos mudar a história da maioria dos indivíduos portadores de alto risco para perda visual (periférica e central), isso só acontece quando fazemos o controle rígido da PIO e de todas as variáveis em cada caso.

Você e seu oftalmologista podem lidar muito bem com o diagnóstico de glaucoma. Podem juntos, mudar a história da doença. Fazer a diferença!

Comprometa-se você também!

 

Leia também    “A hipertensão ocular de hoje será o glaucoma de amanhã?”   no link abaixo:

http://duvidasemoftalmologia.wordpress.com/wp-admin/post.php?post=146&action=edit