Como lidamos com o risco calculado da terapêutica médica?

Como no dia a dia cada vez mais nós,oftalmologistas,somos questionados a respeito e lidamos com efeitos colaterais de procedimentos e medicamentos que utilizamos na nossa pratica diária; ou mesmo recebemos pacientes com sintomas oculares secundários a procedimentos ou medicamentos utilizados por médicos de outras especialidades,achei que deveria publicar aqui matéria a respeito de um comentário feito no post “Fique de olho- um alerta importantíssimo”,aqui no blog.

O comentário foi a respeito de possível surgimento de “floatters” ou moscas volantes (alem de fotopsia) após procedimento oftalmológico (realizado para tentar minimizar perda visual num olho com diagnostico de “membrana neovascular sub-retiniana).

A queixa de moscas volantes é bastante freqüente e as causas podem ser várias,desde o processo de envelhecimento natural do olho,passando pela degeneração miopica (devido à modificação anatômica do olho,que passa a ser mais alongado e antecipa as alterações estruturais do gel vítreo).Ou ainda,a intima relação entre o vítreo e a retina pode ser desfeita ao mínimo trauma ou inflamação/infecção oculares.

A fotopsia ou flashes podem aparecer sem o sintoma prévio de moscas volantes,mas não é o comum.A fotopsia deve ser diferenciada de outras causas não oculares de “visão de luzes piscando”,”pontos luminosos brilhando” ou outro tipo de “alucinação visual” luminosa.

Quando a etiologia é retiniana existe tração da retina,devido a pontos de condensação do gel (vítreo) . Devido à modificação estrutural do gel,que ocorre após o deslocamento vítreo, algumas fibrilas se condensam ,formando então as famosas moscas volantes de vários aspectos e tamanhos.Algumas delas permanecem conectadas à superfície retiniana e nos deslocamentos oculares fazem com que a retina seja “repuxada”…ou seja,tracionada.A isso damos o nome de tração vítreo-retiniana.

A tração é primaria na maioria das vezes mas pode ser um secundarismo tambem. Se levarmos em consideração que toda vez que fazemos qualquer intervenção no organismo estamos de certa forma introduzindo um fator de stress (fisico ou quimico) que irá gerar uma resposta! No final das contas o objetivo será alcançado…mas no curso da recuperação algumas reações indesejaveis (mas esperadas e passiveis de controle) surgirão.

Se o ponto de tração não se desfaz e com o tempo verificamos que isso implica em risco para um descolamento de retina (devido à co- existência de outros fatores de risco,como as degenerações periféricas estatisticamente mais relacionadas ao DR em olhos míopes),então está indicado procedimento para   eliminar essa tração.

Mas devemos sempre levar em consideração que cada vez que o olho (ou qualquer outro órgão) é submetido à exploração cirúrgica ou procedimento invasivo,mesmo que seja para “consertarmos” algo que realmente necessita de reparo,esse procedimento implica em alguns riscos a curto,médio e longo prazo.

A medicina e suas formas terapêuticas,quaisquer que sejam elas,devem sempre ser pensadas dessa forma: um recurso pontual imprescindível ao órgão/corpo doente,que sempre implica em risco calculado que deve ser absorvido tanto pelo medico (ao escolher a melhor forma atuar naquele momento) quanto pelo paciente (que deve entender e conhecer as limitações   do conhecimento cientifico quanto às projeções futuras,no longo prazo,assim como todas as alternativas disponíveis para cada situação de doença e conversar com seu medico a respeito delas e de suas duvidas,a cada momento).

A resposta do próprio organismo à “invasão” que sofre,seja de que etiologia (causa) for,se dá quase sempre sob a forma inflamatória,ou seja,células encarregadas de combater agressores (sejam eles ambientais,microbianos ou agentes físico-quimicos) se multiplicam e migram para o “local invadido”.Dependendo da resistência orgânica e da situação psiconeuroendocrina do individuo que sofreu a agressão,essa resposta resultará em maior ou menor dano secundário à esse organismo.

É por isso que quando extraimos um dente por exemplo,ou somos submetidos a uma cirurgia,recebemos no pós operatório alguma substancia anti-inflamatoria:para evitar um dano maior devido à reação orgânica (normal e esperada) ao procedimento.

Trocando em miúdos,temos que realizar procedimentos que são necessários mas ao mesmo tempo temos sempre em mente que devemos esperar reações às nossas ações e nos prepararmos para melhor agir nesses momentos e bem equilibrar essa equação (ação-reação).

E …sempre …a melhor alternativa é a prevenção da doença.O tratamento é a consequencia inevitavel e embora não tenha a forma ideal (que ainda continuamos buscando) é a alternativa possivel .

A informação pontual recebida através do medico assistente traz tranquilidade quanto ao que esperar a cada etapa de um tratamento.Uma rotina de exames é necessária para a melhor solução para cada dificuldade que surja.A monitorização contínua durante esse período é decisiva,alem da confiança baseada numa sólida e bem estabelecida relação medico-paciente.

As dúvidas e apreensões dos pacientes são legitimas. Informar-se a respeito do que ocorre com o organismo quando ele adoece é importante sim,até para ajudar melhor na recuperação.Mas deve-se investir também e cada vez mais na relação com o medico.Ambos têm a  mesma expectativa: o retorno rápido ao estado de normalidade funcional e recuperação da saúde.



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