Conhecendo mais sobre a DMRI:
Como percebi um maior interesse no post sobre DMRI, vamos abordar aspectos dessa doença, sob outros pontos de vista.
Ainda se conhece pouco a respeito da degeneração macular relacionada à idade que antes se chamava degeneração macular senil e era vista em percentual bem menor do que hoje. O que tem mudado de 30 anos para cá? A alimentação , cada vez mais de pior qualidade,o maior numero de toxinas,ambientais e alimentares, a sobrevida maior e com isso maior processo degenerativo do organismo e a tão falada redução da camada de ozônio, nos submetendo a maior exposição da radiação ultravioleta (como causas principais).
Será apenas coincidencia que a DMRI e a obesidade (e seus coadjuvantes) tenham aumentado exponencialmente do ponto de vista estatistico? Não creio.
Levando em consideração apenas esses fatores, que estratégias deveríamos desenvolver para fazer frente a cada uma dessas prováveis causas modificadores da incidência da DMRI .Todas as citadas podem ser minimizadas (e muito) com adoção de medidas simples e ao alcance de todos.
Duas delas são a mudança de hábito alimentar e eliminação do sedentarismo [através do exercício e do suor eliminamos toxinas,nos oxigenamos melhor aumentando o aporte de oxigênio aos tecidos nobres (coração,cérebro,rins,olhos …no nosso caso) através de inspiração expiração mais bem feitas,durante o exercício, alem de ativar a circulação propriamente dita, aumentando o beneficio de oxigenação ainda mais!].
Outra é adquirir o hábito de usar óculos de proteção contra a radiação ultravioleta (100% ou próximo disso, a cor marrom seria de um beneficio maior, por estar numa freqüência de onda mais longe da dos raios azuis, é o que se sugere..mas qualquer que seja, usar SEMPRE! Esse tipo de proteção é realmente necessário, imprescindível!!
Uma explicação simples e bem desenvolvida sobre a mácula e a DMRI é a do Dr. Terry Grossman, no livro “A medicina da imortalidade” de Ray Kurzweil e Terry Grossman. Editora Aleph,2006:
“ Nossa visão mais nítida ocorre quando a luz é focada sobre uma pequena região amarela, circular, no centro da retina, conhecida como mácula lútea.Essa área minúscula, onde a energia luminosa se transforma em sinais elétricos para a transmissão ao cérebro, é uma região de intensa atividade metabólica.É preciso uma concentração elevada de antioxidantes para neutralizar o dano de elétrons de alta energia extraviados, que inevitavelmente se desprendem dos diversos mecanismos de transporte de elétrons dentro da macula.No decorrer de décadas, esse dano acumula-se e pode levar à degeneração macular relacionada à idade (DMRI) a principal causa de cegueira em países desenvolvidos.”
“A luteína é um bioflavonoide encontrado naturalmente em muitas frutas e verduras. Ingerir uma dieta rica em luteína e outros bioflavonoides naturais, encontrados em produtos agrícolas de cor viva, pode ajudar a prevenir ou retardar a ocorrência de DMRI… Em alguns grupos estudados, houve uma diferença de até 10 vezes na ocorrência de drusas (…que costumam resultar em DMRI).entre indivíduos que têm as maiores e as menores concentrações de luteína.”
Outra abordagem interessante que ajuda a entender a DMRI, é a da jornalista Jill Fullerton-Smith em seu livro “A verdade sobre a comida” Editora Intrinseca,2008:
“A retina contem milhares de células sensíveis à luz, que enviam sinais ao cérebro. Os radicais livres danificam as células da retina e afetam sua ação…Uma em cada 6 pessoas com mais de 60 anos sofre de DMRI.Aos 75 anos, uma em cada 3 tem a doença.A DMRI não provoca perda total da visão, mas a afeta de tal modo que muitos de seus portadores são considerados “legalmente cegos”. Na verdade, esta é a principal causa de cegueira no mundo desenvolvido.”
“Infelizmente a própria exposição à luz provoca a formação de radicais livres na retina… Quanto mais forte a luz e quanto mais azulada, maior a quantidade de radicais livres produzidos. A luz ultravioleta é mais destrutiva.Obviamente a natureza tem uma forma de proteger os olhos.Existe na retina um pigmento que absorve a luz azul e ultravioleta. O pigmento atua como se fosse os oculos escuros do olho,bloqueando parte da luz ultravioleta antes que ela possa causar danos.”
“O pigmento presente na retina também possui outra função: trata-se de um potente antioxidante.Assim, quando os radicais livres,potencialmente perigosos chegam à retina,em geral são detidos antes de causar danos.O pigmento protetor da retina concentra-se na macula, onde é mais necessário”.
“…”pigmento macular”…as pessoas que o possuem em quantidades insuficientes correm risco de desenvolver DMRI…”
“Surpreendentemente, o corpo não produz o pigmento macular.Ele é formado por dois compostos quimicos amarelo-alaranjados que são produzidos apenas por plantas.Assim, a única maneira de mantermos os níveis do pigmento nos olhos é garantindo a ingestão de alimentos que o contenham. As duas substancias químicas no pigmento macular recebem nomes exóticos: luteína e zeaxantina…”
E, novamente,nos auxiliando das orientações que a Harvard Medical School disponibilizou a respeito no (“Guia Pratico para Proteger sua Visão” editora Campus 2002), vamos reproduzir alguns fatos importantes sobre DMRI:
“Uma pessoa afetada pela degeneração macular relacionada à idade pode desenvolver um ponto cego no campo de visão que pode aumentar de tamanho com a progressão da doença.Este ponto cego pode afetar a capacidade de realizar atividades rotineiras que exigem visão direta ou central,como ler,costurar,dirigir e reconhecer as pessoas.(A visão periférica não se altera.)”
“Uma doença potencialmente devastadora, a degeneração macular relacionada à idade é a causa mais comum de cegueira legal em pessoas com mais de 55 anos de idade…. e 5% das pessoas com mais de 65 anos sofrem algum grau de perda de visão em decorrência da DMRI.
A DMRI poupa a visão periférica, os pacientes com DMRI raramente ficam cegos.
Tipos de DMRI:
A doença ocorre em duas formas principais: a forma seca e a forma exsudativa.A grande maioria das pessoas afetada pela degeneração macular relacionada à idade (90%) tem a forma seca ou atrófica, na qual pequenos depósitos amarelados chamados drusas se formam e começam a decompor os fotorreceptores (células sensíveis à luz) na área macular da retina.
A DMRI exsudativa, a forma mais grave e implacável da doença, ocorre quando surgem vasos sanguíneos anormais que avançam para dentro da retina,na direção da mácula,como raízes de uma árvore sob a calçada. Esses novos vasos são frágeis e propensos a vazamentos de liquido e sangue,que provocam danos tissulares e às células fotorreceptoras,danificando rapidamente a mácula…
Embora ocorra em apenas 10% de todos os casos de degeneração macular relacionada à idade, a DMRI exsudativa é responsável por 90% dos casos de cegueira legal nos casos de degeneração macular.”
“Causas e fatores de risco:
O envelhecimento, em si, é um importante fator de risco: as pessoas com cinqüenta e poucos anos têm apenas 2% de chance de desenvolver a DMRI; esse risco pula para 30% nas pessoas acima de 75 anos. As mulheres… desenvolvem a doença com mais freqüência, bem como pessoas com histórico familiar de degeneração macular relacionada à idade.A raça também é um fator de risco; os caucasianos têm mais probabilidade de perder a visão em decorrência da doença do que os afro-americanos.
Outros fatores que aumentam o risco são: tabagismo, exposição à luz do sol e à radiação ultravioleta,olhos claros, miopia, hipertensão arterial,colesterol alto e doença coronariana.”
“As pesquisas mostram que, provavelmente, a ingestão de grande quantidade de hortifrutigranjeiros ricos em luteína e zeaxantina, sobretudo nas verduras como o brócolis ou o espinafre, é útil. Consumindo uma maior quantidade deste tipo de alimento, você pode aumentar a densidade desses carotenóides na retina e no cristalino … e protegê-los dos danos da oxidação.”
“Se estiver pensando em mudar a dieta para incluir mais alimentos ricos em antioxidantes e/ou tomar suplementos polivitaminicos, consulte o médico.Talvez você tenha outros problemas de saúde que poderiam ser afetados por essas mudanças alimentares.”
“…os comprimidos de vitaminas talvez não tenham o mesmo poder de combater as doenças que os alimentos integrais…No entanto, se estiver pensando em tomar uma vitamina para os olhos, peça orientação a um oftalmologista…”
“Quantidades muito elevadas de vitamina C no longo prazo, por exemplo, podem causar irritações gástricas e cálculos renais.Há também indícios crescentes de que os suplementos com mais de 100% da quantidade recomendada de vitamina A pode ser demais para pessoas com mais de 60 anos, porque a capacidade de eliminação da vitamina do organismo pelo fígado diminui.”
“…Se seu oftalmologista lhe receitar uma vitamina para os olhos,não se esqueça de mencionar que já está tomando um suplemento polivitamínico, evitando assim o consumo excessivo de nutrientes.Além disso tente fortalecer sua alimentação com muitas frutas e hortaliças…”
Antes do estudo AREDS ,o protocolo oftalmologico para tratamento da doença macular não incluia suplementação de vitaminas, minerais e bioflavonoides em pacientes portadores de drusas no polo posterior do olho. Hoje é mandatório seu uso e, não apenas a suplementação nesses casos, mas a busca ativa pelos antecedentes familiares de todos os individuos, procurando assim se antecipar à provavel doença,atraves de mudanças de estilo de vida (estrategias alimentares,eliminação do sedentarismo etc).
Ainda com dúvidas?
Eu tenho! Apesar de toda informação existente ,dos estudos científicos disponíveis até o momento,eu me pergunto:
- Em indivíduos com historia familiar de DMRI (pais ou avós),a partir de que idade prescrever suplementação de luteína? Posso realmente me contentar com a ingestão diária de hortifrutigranjeiros?
- Será que o individuo fará as modificações necessárias na sua dieta, e estará consumindo diariamente a quantidade ideal de luteína e zeaxantina? E se estiver,será essa a única intervenção necessária para evitar/retardar a DMRI?
- Hoje o fator mais importante a que se atribui o aumento das doenças crônicas degenerativas (doença arterial coronariana,AVC,DMRI p.ex.) é o estado pró-inflamatório do organismo. Além dos carotenoides,devo insistir em outras medidas dietéticas ,além das já faladas e no aumento de atividade física?
Essas duvidas são pertinentes,caro leitor…porque no dia a dia,quando falo com os pacientes a respeito,e eles ainda não estão na faixa dos 50 [às vezes mesmo após os 60 , já com drusas à fundoscopia (fundo de olho) alguns ainda são resistentes] me torno repetitiva a ponto de perceber que os incomodo com meus “conselhos”.
Você é um dos que só vê o problema quando ele não tem mais uma solução satisfatória ou se antecipa a ele? Se estiver no segundo caso, meus parabéns!Você prova que se gosta e quer chegar aos 80-90 anos com excelente visão (e muito provavemente bastante saudável!)
P.S.: Errata relacionada ao paragrafo do livro citado acima(“A Medicina da Imortalidade”):
“A luteína é um bioflavonoide encontrado naturalmente em muitas frutas e verduras. Ingerir uma dieta rica em luteína e outros bioflavonoides naturais, encontrados em produtos agrícolas de cor viva, pode ajudar a prevenir ou retardar a ocorrência de DMRI…”
A luteina,citada como um bioflavonoide é na realidade um carotenoide;esses dois compostos possuem efeitos antioxidantes e protetores dos tecidos oculares, porem pertencem a distintas classes bioquimicas.
Tenho 26 anos, fiz um exame de retinografia e o exame acusou drusas de coróide na região foveolar. O médico oftalmologista informou-me que é o início de DMRI, estou muito preocupado, todas as informações que encontro falam dessa doença para pessoas com no mínimo 50 anos, ainda sendo raro nesta idade. Não tenho casos similares na família, o que devo fazer? existem mais casos como o meu? Vou perder a visão daqui alguns anos?
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Charles,
As drusas (ou achados similares como os depositos drusenoides sub-retinianos ou as pseudo drusas reticulares) indicam alteração bioquimica, estrutural,histologica e anatomica (numa sequencia de eventos). A exposição à luz provocaria a oxidação de um segmento dos fotoreceptores retinianos,ricos em lipideos com produção de radicais livres.Esta reação daria origem a material que se depositaria entre coroide e retina.
Ainda não sabemos muito (ou pelo menos o quanto deveriamos) a respeito delas, drusas. Mesmo não tendo antecedentes familiares é possivel que qualquer um de nós as desenvolva.Assim como no diabetes mellitus em que antes se buscava antecedentes familiares e hoje sabemos que muitos diagnosticos atualmente são feitos em individuos sem nenhum antecedente e creditados ao erro alimentar cronico. Em outras palavras, muitos de nós terão o diagnostico de diabetes na senilidade (ou antes dela) por conta do hábito introduzido pelo “fast-food”.
O que posso dizer é que elas, drusas,ainda não significam doença, assim como nevus, manchas ou sinais na pele não necessariamente significarão cancer de pele no envelhecimento.Mas, continuando a analogia,as drusas são preditores de risco para degenerações senis de retina, especialmente na macula,importante para nossa visão central.
Nem todos que têm drusas terão obrigatoriamente DMRI, mas quanto mais precoces elas surgem maior é o risco, sim. Mas vamos ao lado prático: o que voce pode fazer para determinar a manutenção de uma boa visão na sua senilidade? Evitar a exposição à luz natural (solar) e/ou artificial e a baixa oxigenação dos tecidos retinianos (ambas situações provocam maior produção de radicais livres). Então óculos com proteção UV total (bloqueio 400 nanometros) “full-time”,inclusive em ambientes internos (oculos fotossensiveis) e atividade aeróbica intensa (cinco a seis vezes/semana)!!!
Além disso uma alimentação funcional equilibrada que garanta os carotenoides importantes para a mácula (luteina e zeaxantina),além dos catalisadores de reações bioquimicas como o zinco, selenio. As vitaminas e minerais podem ser obtidos com a alimentação funcional (que visa especialmente manter um nivel adequado de vitaminas,minerais e substancias necessarias àquele organismo em especial). A suplementação (cápsulas ou drágeas) pode ser feita, mas a médio e longo prazo deve ser substituida pelo alimento funcional. A metabolização dos nutrientes ofertados em doses altas e individualizados, fora da ocorrencia natural no alimento, é feita principalmente pelo fígado e não deve ser mantida a médio e longo prazos a não ser em situações muito especiais e avaliados caso a caso. Há que se pesar risco-benefício.
A longo prazo acredito mais na correção metabólica através da alimentação. É muito mais saudável e sem efeitos colaterais.
Eu pensaria assim em relação às drusas: é como ser filho, sobrinho e neto de diabéticos (tipo 2). Provavelmente esse individuo ficticio é um diabético (em potencial) mas ainda não desenvolveu a doença. Então me pareceria muito mais lógico sugerir que ele tivesse conhecimento maior sobre carboidratos/carga glicemica e fizesse a correção dietética necessária para diminuir (retardar) o dano ao pancreas e com isso poder ir mais longe.E quem sabe chegar aos 80 anos sem o diagnóstico da doença!
Espero ter ajudado!
Abs,
Elizabeth
P.S.: Esse individuo ficticio é real na minha familia e foi esse o caminho escolhido!
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Boa noite,
Dra. Elizabeth obrigado pelas explicações, muito esclarecedoras.
Fico mais tranquilo, porém, ciente do papel importante da mudança de hábitos;
Parabéns pela nobre iniciativa deste blog, realmente é muito útil.
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