Vamos falar sobre a retina.

A retina é transparente.Vemos o vermelho-alaranjado do fundo,através dela.Quando descolada perde a transparencia .Fica com essa coloração leitosa que vemos à direita da foto.
Um termo de pesquisa buscado no blog nos últimos dias foi relativo à queixa de “clarão nos olhos”.Esse termo é usado por indivíduos que se referem à sensação visual de “ver raios,como quando relampeja… ou ver faíscas…”.De repente…do nada,começam a perceber esses momentos de brilho intenso e rápido,que acontecem no escuro ou quando eles mexem a cabeça ou mudam de posição e às vezes quando movimentam os olhos durante a leitura.
A fotopsia ( nome que damos à essa percepção luminosa ) acontece por uma tração na retina. Como se dá essa tração?
Imagine uma mulher vestida com uma meia-calça longa que em algum momento foi ligeiramente danificada por uma pulseira ou relógio passados “de raspão” sobre ela. Não vai rasgar…agora.Mas pense no que ocorrerá com essa mesma meia depois de alguns dias mais de uso …De repente ,um belo dia,sem mais nem menos, essa meia rasga (“desfia”) ao menor toque ao ser usada. Não foi assim tão inesperado, não é mesmo? Já sabíamos que isso poderia acontecer mais cedo ou mais tarde, por causa daquele “ponto frágil” criado no episodio relatado acima e constantemente tracionado ao se fazer uso da meia.
Assim ocorre com nossos olhos. Podemos comparar a retina à uma extensão das células nervosas,capazes de transformar um impulso recebido na imagem que você vê quando olha o mundo ao redor.É um tecido nobre dos nossos olhos. Sem a integridade da retina e do nervo óptico (que seria o conjunto dessas fibras retinianas agrupadas e condensadas num tipo de “fio condutor” para serem levadas ao cérebro)…não seriamos capazes de ver. Mesmo com a córnea íntegra e sem catarata ou outra patologia…não enxergaríamos! A retina poderia ser comparada ao “filme” da máquina fotográfica (daquelas de antigamente…não digital … lógico!).Uma máquina perfeita…mas sem filme..você poderia clicar…mas não obteria imagem para ser revelada,não é mesmo?
Então…o que ajuda a proteger esse tecido ocular tão nobre? O humor vítreo ou corpo vítreo ou…simplesmente… vítreo para os mais íntimos! É um gel, que “preenche” a cavidade ocular. Os olhos não são estruturas sólidas…são como “cistos” preenchidos por esse gel e “forrados” internamente pela retina (complexo retina-coroide) ,com uma capa externa que é a esclera (a parte branca dos olhos).
Agora imagine uma vasilha com gelatina que você tira da geladeira e deixa sobre a pia.Depois de algumas horas…ela se liquefaz,não é mesmo? Mas, mesmo assim,se você passar o conteúdo dessa vasilha por numa peneira,verá que ainda ficam resíduos dessa gelatina na rede.Nos olhos,esses fragmentos do vítreo,quando se liquefaz (seja por trauma ou pela própria idade), você vê como “mosquinhas” ou “pontos pretos” ou ainda “teias de aranha” quando olha para o céu em dias de sol,ou lê sobre superfícies muito claras.O nome popular para esses pontos: “moscas volantes”. Quando estamos mais tensos, a percepção desses pontos aumenta Por outro lado,quando estamos bem,quase não percebemos esses pontos.
Quando temos descolamento posterior de vitreo (DPV), costumamos ver esses pontos pretos, pois a liquefação do gel levará a essas percepções. Nessa etapa, já fomos ao oftalmologista, ele detectou o DPV, examinou a retina e não encontrou nenhuma degeneração periférica de risco para descolamenteo de retina (DR). Essas degenerações podem estar presentes nas várias etapas de vida e não são incomuns. Apenas que identificamos em algumas delas, risco maior para o DR. E, se somos portadores desses tipos específicos de degeneração, devemos ter mais cuidado ainda a partir do DPV,porque um dos “fatores de proteção” dessa retina já não existe mais: o vitreo condensado e “servindo de apoio” à retina.
Então , existem duas situações para ficarmos atentos:
A primeira: Há tempos vemos essas moscas volantes , fizemos o mapeamento de retina (exame para avaliar a periferia da retina e verificar existência de degenerações) e naquele momento nada de anormal ,alem do DPV, foi verificado. Mas agora, as “moscas volantes” aumentaram em numero e vemos quase que o tempo todo. Sinal de alerta! Procure o seu oftalmologista para avaliar novamente a sua retina.Certifique-se de que não exista nenhuma inflamação no interior do olho ou mesmo que não tenha surgido algum tipo de alteração mais importante.Não espere passar o sintoma…vá ao primeiro sinal de mudança de tipo e freqüência dessas “moscas volantes”.
A segunda: Você nunca havia experimentado essa sensação de embaçamento transitório, como uma “rede ou véu” atrapalhando a visão …ou mesmo essas “moscas volantes” desagradáveis. Procure imediatamente o oftalmologista para ter certeza de ser “apenas” um DPV e não algo mais importante em que se tenha que intervir rapidamente.Esse tempo que você perder entre o inicio dos sintomas e a ida ao oftalmologista pode significar a diferença entre ter que ser submetido apenas a uma sessão de laser para “colar” alguma rotura (ou buraco) na retina ou ter que se submeter a uma cirurgia para tratar, agora, um descolamento da retina, causado pelo não tratamento daquele mesmo “buraquinho” de antes.Outro sinal que pode nos ajudar a perceber a gravidade da situação é a percepção da fotopsia ( os flashes, ou percepções luminosas,como já falamos mais acima). Isso ocorre porque a retina está sendo tracionada e como ela conduz estímulos luminosos, cada vez que ela é “pinçada” temos a sensação de ver luzes piscando.Então, resumindo, se estamos vendo “clarões de luz” não temos que esperar nada: é ir direto ao oftalmologista, para nos darmos a oportunidade de identificar o problema num estágio em que ele pode ser resolvido com uma intervenção menos invasiva e que se traduza numa melhor acuidade visual presente e futura!
Veja a possivel relação com a depressão e os neurotransmissores no post “Floaters (moscas volantes) e depressão…qual a relação provável?” publicado hoje, abril de 2012
https://elizabethnavarrete.com/2012/04/15/floaters-e-depressao-qual-a-relacao-provavel/
(Veja mais a respeito do assunto no post “Mais sobre moscas volantes,fotopsias,flashes e fosfenos…” publicado em agosto de 2010)
(Veja a correlação destes sintomas com o uso de medicamentos no post ” Flashes,fosfenos,sensações visuais incomuns e medicamentos…uma relação mais que possível ” em agosto de 2011)
Mais conteúdo sobre moscas volantes na internet:
http://www.eyecare.com.br/Retina.aspx
http://www.olhosfreitas.com.br/prg_vis_opi_dor_ger.cfm?id=67
Uma abordagem interessante sobre habituação em relação às moscas volantes (de forma semelhante ao que é proposto na habituação ao tambem desagradável sintoma que é o zumbido) voce encontra na leitura de um ebook disponivel na internet. O autor Mark Lorne explica por que alguns de nós não conseguimos evitar “ver” os floaters comuns a quase totalidade da população. E propõe algumas estratégias possiveis para a evitar a percepção deles. Um leigo interessado em ajudar outros individuos a conviver com moscas volantes. Mais ainda, ele identifica um perfil psicológico comum aos queixosos cronicos em relação às moscas volantes. Vale a pena ler e refletir a respeito!
O link:
http://www.noeyefloaters.com/index.htm
No blog www.moscavolante.com.br uma tradução livre do texto de Mark Lorne
Curtir isso:
Curtir Carregando...