doença vascular

A difícil tarefa de tratar o glaucoma: relato de casos

Monitorizando o glaucoma…

Nem sempre é fácil conduzir o paciente através dos anos em seu controle diuturno relacionado à doença glaucomatosa! E quanto mais (e melhor) informado o indivíduo está em relação às dificuldades diagnósticas e terapeuticas do glaucoma, melhor sucedido é em sua cruzada contra o dano visual e na tentativa do melhor controle possivel da sua doença!

Mais condições terá de entender a doença e auxiliar o médico na tarefa de manter a sua qualidade de vida.

Uma vez atendi um indivíduo que tinha sido diagnosticado e usava colírios para glaucoma havia mais de 10 anos. Nos últimos 2 anos teve que trocar de oftalmologista por ter mudado de plano de saúde. Ainda não havia elegido outro médico para acompanhar o seu tratamento e se contentava em medir a PIO, de tempos em tempos.

Ele veio à consulta, segundo suas palavras, “apenas para medir a pressão dos olhos”. Depois da consulta padrão, apesar da relutância dele, foi feito um exame de campo visual. No fechamento da consulta conversamos e eu expliquei que a PIO encontrada, apesar do valor (15mmHg), ainda não era a pressão ideal para o seu olho, pelo fato de ter havido uma piora significativa do campo visual em relação aos seus últimos exames (ele os havia levado). Isso indicava a necessidade da redução da PIO a níveis bem menores que os atuais 15mmHg. Mas ele insistia em dizer que a pressão estava normal porque durante anos a fio ela havia estado naquele patamar (15mmHg) e ele continuava bem. Sentia-se bem e enxergava muito bem.

Ele então acenou com a possibilidade de êrro no exame campimétrico, mas não se interessou por uma nova avaliação. Agradeceu a atenção e saiu convicto de que não havia nada com o que se preocupar.

Prefiro acreditar que eu não tenha sido clara na minha explicação ou ainda que a empatia necessária para uma relação médico-paciente produtiva não tenha se estabelecido. Espero que outro oftalmologista tenha conseguido medicá-lo de forma eficiente, evitando assim o desfecho negativo que se antecipava.

Em outro caso de uma paciente que eu diagnosticara e já acompanhava ao longo de 5 a 6 anos, com uma pressão máxima de 09mmHg (em uso de medicação), tive a angústia (e tristeza) de verificar uma evolução rápida e inesperada da doença. Ela estava estabilizada (ou pelo menos eu achava que estava, baseada nos critérios clínicos) havia mais de um ano.Os campos visuais seqüenciais não mostravam evolução e a PIO nunca mais esteve em 12mmHg (pressão máxima que teve ao longo de todo o seu tratamento). Os exames de imagem eram solicitados anualmente.

Uns oito meses após a última visita (sim, por esta ou aquela razão só a vi quase um ano depois) ela veio para controle. Fiquei assustada com a piora do defeito campimétrico. A PIO se mantinha em 09 mmHg mas, no fundo do olho, uma hemorragia na cabeça do nervo óptico indicava atividade da doença glaucomatosa. O nervo não estava sendo oxigenado devidamente. A PIO tinha que ser diminuída para aumentar o acesso de sangue à papila.

O que havia acontecido?

Ela era uma paciente de risco elevado. Tinha uma história familiar de cegueira por glaucoma (mãe), apresentava hipotensão arterial e migrânea. O controle da doença glaucomatosa era apenas aparente. A doença vascular sistêmica seguia seu curso. Se o controle oftalmológico tivesse permanecido trimestral ou quadrimestral talvez eu tivesse podido evitar a progressão da doença, ao perceber a necessidade de reduzir o valor da pressão-alvo.

Ela já havia sido submetida a uma M.A.P.A (monitorização ambulatorial da pressão arterial) que mostrara diminuição noturna da pressão arterial, porém dentro dos limites considerados fisiológicos. Mesmo assim eu solicitara ao seu clinico a prescrição de medicação para aumentar a pressão arterial ou pelo menos reduzir a hipotensão secundária que acontecia em situações como calor excessivo e outras presentes no dia a dia. Mas, nada disso adiantou. A insuficiência da pressão de pulso (ou pressão de perfusão) faz com que alguns tecidos deixem de ser oxigenados como precisam. Em outras palavras, o sangue não chega a determinados tecidos, desfavorecidos pela anatomia ou pela existência de uma resistência (local) maior que em outras áreas.

Nem a complementação terapêutica com a adição de outra droga anti-glaucomatosa (ela estava agora em uso de três colírios) e redução da PIO em mais 3mmHg (sua pressão média agora era de 6mmHg) foram suficientes para estabilizar o quadro (continuava apresentando hemorragias no disco óptico). Realizada uma cirurgia (fistulizante), hoje ela está mais bem controlada, tendo estabilizado o campo visual e o exame de imagem. Ainda hoje me pego pensando neste caso, tentando identificar decisões que poderiam ter feito diferença, se tivessem sido postas em prática na época.

O glaucoma é uma doença traiçoeira. Todo cuidado é pouco. Não devemos achar que estamos no controle, nunca!


O bom senso deve sempre prevalecer. O acompanhamento deve ser constante. E, sabendo que cada caso é um caso, o compromisso com a saúde do individuo, além da relação de confiança entre médico e paciente devem pautar as decisões a serem tomadas, assim como em toda e qualquer doença crônica e suas fases evolutivas.

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Prevenção no glaucoma: é possível?

A prevenção da doença glaucomatosa é possivel? 


Ou apenas podemos fazer seu diagnóstico precoce e com o tratamento (redução da PIO) evitar a perda visual ao longo da sua evolução?

 

Hoje em dia, apesar do avanço tecnológico-cientifico, a pressão intra-ocular (PIO)  ainda é o único alvo (reconhecido) da nossa terapêutica em relação ao glaucoma. A diminuição da pressão é o que podemos fazer, embora nem sempre seja suficiente para alterar de forma significativa a evolução da doença.

A proteção do nervo óptico em relação à agressão mecânica ou vascular vem sen- do buscada de forma agressiva pela indústria farmacêutica, mas ainda não temos na prática resultados positivos. Ainda não existem no mercado drogas neuroprotetoras que possam ser utilizadas na doença glaucomatosa.

Enquanto não dispomos deste conhecimento e conseqüentemente de medicamentos que reforçariam a proteção ao nervo óptico, será que temos alguma outra forma de lidar com o glaucoma?

Sabemos que todas as doenças crônicas degenerativas, hoje cada vez mais freqüentes, podem ser minimizadas em sua expressão sintomática e funcional, se nos ativermos aos principais aspectos que elas têm em comum: a privação parcial de oxigenação e de nutrientes, ambos vitais ao funcionamento ideal do organismo humano.

Trocando em miúdos, receber oxigênio e substâncias essenciais à manutenção das suas atividades é vital a toda e qualquer organização celular. Seja o coração, os nervos ópticos ou qualquer outro “pedaço” do nosso corpo. Numa outra analogia, tampouco as plantas sobrevivem apenas porque estão em contato com a terra. Elas precisam de oxigênio, luz e água. Os nervos ópticos precisam de um aporte sanguíneo suficiente para manter sua higidez (pleno funcionamento). E assim como as folhas da planta vão murchando até ela não mostrar mais sinal de vida, no caso dos olhos, o campo visual segue diminuindo até a perda da visão central na doença glaucomatosa.

Uma analogia simplista demais, talvez, mas que ajuda a entender porque apenas reduzir a PIO não é suficiente muitas das vezes. A vitalidade do nervo não depende apenas da pressão à qual ele é submetido. Quando este é o fator mais importante (ou único) o problema é mais fácil de resolver. Mas não é assim que funciona na maioria dos casos.

A enxaqueca, a hipertensão arterial, a hipotensão arterial e o diabetes mellitus são alguns dos fatores de risco para desenvolvimento da doença glaucomatosa.

Mas são muitos os fatores que levam às doenças. Se não fosse assim, vamos raciocinar: porque nem todos os enxaquecosos têm glaucoma? O mesmo raciocínio vale para os hipertensos arteriais mal controlados e os hipotensos sintomáticos. A resposta é simples: A doença é fruto de um somatório de fatores, como predisposição familiar (herança genética), disfunção vascular, uso de medicações para outras patologias que podem interferir com o fluxo sanguíneo para o olho, etc. E existem fatores de proteção  que podem ser agregados, quando se conhece o terreno biológico (predisposição genética e formas de expressar as doenças) do indivíduo, na expectativa de que ele não venha a desenvolver a doença glaucomatosa. Em minha opinião, estes fatores podem, desde já, ser utilizados a nosso favor.

Poderíamos identificar os grupos de risco através da história familiar em relação à doença glaucomatosa e através  da presença desde cedo de sinalizadores de desregulação vascular e risco maior de evoluir com doenças vasculares e já a partir da adolescência instituir mudanças de estilo de vida. Enfatizar a importância e necessidade do exercício aeróbico regular. Por exemplo, “malhar” a rede vascular para melhorar o fluxo sanguíneo e manter o bom aporte de oxigênio aos tecidos pode ser parte da solução. Esta oxigenação costuma diminuir com a idade e mais ainda naqueles que mostram um padrão de desregularão vascular: os hipertensos arteriais, os migranosos (enxaquecosos) e ainda os pacientes com tendência a espasmos vasculares como os portadores de certos tipos de angina.

Já conhecemos os grupos de pessoas mais susceptíveis ao desenvolvimento do glaucoma. Mais estudos são necessários para comprovar essa possibilidade de intervenção preventiva. Mas, enquanto isso não acontece, por que não fazer uma seleção de pacientes que podem vir a se tornar glaucomatosos com a idade e propor mudanças de hábitos alimentares e estilo de vida?

Mesmo que ficasse provado mais tarde que as medidas adotadas não foram suficientes para alterar significativamente o diagnóstico e a evolução do glaucoma nestes indivíduos, ainda assim, qual teria sido o aspecto negativo desta estratégia em relação à vida deles? Com certeza, em outros aspectos, se tornariam indivíduos mais saudáveis, no mínimo. E, francamente, alguém acredita na possibilidade deste tipo de intervenção não influenciar de forma positiva o desfecho em relação às doenças cardiovasculares? Por que seria diferente em relação ao glaucoma, se essa doença se manifesta principalmente, ou de forma mais refratária ao tratamento, nos portadores de doença vascular?

E mesmo que a doença aconteça, pelo menos teremos maior possibilidade de controle terapêutico do que se deixarmos toda a gama de fatores predisponentes se somarem, de forma a favorecer um resultado ruim. Que no caso do olho seria uma redução im- portante da visão periférica (ou mesmo perda central), diminuindo muito a qualidade de vida.

Consulte o oftalmologista periòdicamente, mantenha sua saúde vascular, procure não desenvolver as doenças que podem ser evitadas através de maior controle nutricional e exercícios físicos (diabetes mellitus e hipertensão arterial) e terá feito a sua parte para tentar garantir uma maior qualidade de vida à sua longevidade.

O glaucoma e a pressão intra-ocular (PIO)


O glaucoma é uma doença causada pela pressão intra-ocular elevada?

 “Quanto mais aprendemos sobre o glaucoma, mais percebemos que a pressão intra-ocular é um fator de risco importante para o glaucoma, mas apenas um dos vários fatores de risco”. Dr. Rick Wilson,Wills Eye Institute, 2001

            A maioria dos pacientes pensa que glaucoma é o aumento da pressão intra-ocular pura e simplesmente. Seria mais fácil seu controle se fosse apenas isso. Como em todas as áreas do conhecimento médico, cada vez mais surgem dados que nos lembram que nenhum órgão está isolado do organismo. Tudo que acontece localmente tem repercussão sistêmica, ou seja, no todo, e vice-versa. Então se antes pensávamos no glaucoma como uma doença do olho, hoje podemos dizer que os sinais e sintomas da doença são oculares, porém muito provavelmente a falta de regulação vascular (que acontece em todas as áreas desse organismo e não só no olho) é a responsável pelo aparecimento da doença naquele indivíduo.

 

Está à sua disposição, na internet, um texto bem elaborado e de fácil entendimento a respeito da doença glaucomatosa, de autoria do Dr. Leôncio de Souza Queiroz Neto, oftalmologista do Instituo Penido Burnier, de Campinas. Leia, acessando o link abaixo:

www.drqueirozneto.com.br/patologias/glaucoma/oquee.htm

 

O glaucoma, então, é uma doença crônica progressiva. Mais especificamente, é uma neuropatia óptica isquêmica (oxigenação insuficiente do nervo óptico). E, em outras palavras, não tem cura. O indivíduo deve permanecer em tratamento por toda a vida procurando deter (ou lentificar ao máximo) a evolução da doença, conseguindo a estabilização da visão periférica e a manutenção da visão central pelo tempo de vida que venha a ter. Assim como acontece com todas as doenças crônicas degenerativas, como a hipertensão arterial (“pressão alta”),o diabetes mellitus (“diabetes”)e tantas outras comuns nos dias de hoje.

Mas, quais seriam os indícios (pistas) que o oftalmologista teria em relação à doença glaucomatosa e quais os sintomas que levariam o indivíduo a suspeitar da doença e procurar o oftalmologista?

Bem, infelizmente a doença glaucomatosa é assintomática, ou pelo menos a maioria de nós, médicos alopatas (ortodoxos ou tradicionais) assim a vemos. Isso porque não incluímos em nossos “estudos científicos”, sintomas inespecíficos que alguns indiví duos trazem de longa data e que, até hoje, não pudemos relacionar de forma assertiva ao glaucoma.

Então, cabe ao oftalmologista, na visita rotineira (check-up), avaliar cuidadosamente o fundo do olho do indivíduo, dando atenção especial ao nervo óptico e medir sua pressão intra-ocular. Deve estar atento também à genética e à presença de doenças vasculares que podem sinalizar maior risco de desenvolver a doença glaucomatosa, além de submeter o indivíduo a exames complementares, sempre que necessário, para melhor estratificar o risco de cada um em relação à neuropatia óptica glaucomatosa.

Para que seja feito este acompanhamento, é preciso que o indivíduo procure o especialista. Apesar de primária, essa observação é necessária. Que se procure um médico regularmente para identificar fatores de risco, para esta ou qualquer outra doença crônica degenerativa. Nós, infelizmente, ainda não temos o hábito da prevenção, ou melhor, ainda, da promoção de saúde. Apenas um percentual da população tem acesso a este tipo de intervenção. A grande maioria ainda sofre buscando a sobrevivência e não tem acesso ou mesmo desconhece que esse tipo de estratégia seja possível. Já vivenciei casos (no serviço público), em que a família busca atendimento para uma cegueira que “… aconteceu há menos de três dias…”, quando o que vemos é um nervo óptico absolutamente atrófico, sinalizando a cronicidade da condição que teve como desfecho a cegueira (agora irreversível). Foram anos de doença não diagnos- ticada!

E mesmo quando tratados, os pacientes devem ser informados de que o tratamento do glaucoma,assim como de todas as outras doenças crônicas degenerativas é uma luta a ser travada dia após dia, sem trégua!

E nesse processo devemos manter a pressão intra-ocular estável durante o dia e à noite. O acompanhamento contínuo, através de exames clínicos e de imagem, nos informará sobre a eficácia do tratamento. A evolução da perda funcional, em um olho com a pressão aparentemente controlada indica que existe instabilidade pressórica. Mudanças na medicação devem ser feitas e deve ser avaliada a necessidade de indicação cirúrgica.

 

O glaucoma é a segunda maior causa de cegueira tratável. A primeira é a catarata (cuja má visão se reverte após a cirurgia, desde que não existam outros fatores contribuindo para a baixa visual). No caso do glaucoma, a cegueira pode (e deve) ser combatida com tratamento personalizado, caso a caso.

Nem sempre os resultados são os esperados, mas na grande maioria das vezes, o tratamento é eficaz na prevenção da cegueira!

 

Leia também    “A hipertensão ocular de hoje será o glaucoma de amanhã?”    no link abaixo:

http://duvidasemoftalmologia.wordpress.com/wp-admin/post.php?post=146&action=edit

 

 

Como anda a sua visão?

Há alguns dias respondi a algumas perguntas a respeito do tema: Como anda sua visão?

Considerei bastante interessante a matéria e muito oportuno o questionamento a respeito de saúde e doença ocular. A informação voltada para o público leigo foi iniciativa da produção do programa  Espaço Feminino da TV Boas Novas.

Eis as perguntas e as respostas:
1- Que sinais apontam que a saúde dos olhos não está adequada?

Você conhece a frase “O corpo fala”?

É, inclusive,titulo de um livro.

Então, sinais de que a saúde dos olhos não vai bem podem ser desde uma dor de cabeça persistente e relacionada aos esforços visuais sem qualquer alteração na visão até a percepção da própria doença ocular através de vermelhidão, ardência, coceira (prurido), sensação de areia ou mesmo dor ocular. Sintoma importante também é a percepção súbita de manchas na visão, como as moscas volantes ou as “teias de aranha” que surgem quando o vítreo liquefaz e/ou se descola. Neste momento devemos buscar ime diatamente o oftalmologista para identificar possíveis degenerações de risco para DR (descolamento de retina) e fazer sua profilaxia.

Importante lembrar que todo sintoma novo, especialmente se agudo deve ser avaliado pelo médico. Por exemplo, a vermelhidão do olho pode ser uma conjuntivite viral (que é auto-limitada, mas ainda assim pode deixar algumas seqüelas que podem ser evitadas quando tratadas convenientetemente) ou outra doença mais importante que pode ser indicativa de problemas em outros órgãos e não apenas nos olhos.

O inverso é verdadeiro também. O exame oftalmológico rotineiro pode surpreender e antecipar um diagnóstico e mudar o desfecho da doença. Por exemplo, um papiledema,num caso neurológico ainda não sintomático. Uma hemorragia no nervo óptico num indivíduo com pressão intra-ocular normal e sem historia familiar de glaucoma. Uma alteração discreta de transparência cristaliniana (catarata incipiente) num jovem de vinte e poucos anos em uso crônico de medicação inalatória preventiva da asma com corticóide ou secundária a terapia de luz pulsada para remoção de mancha da pele. Ou ainda uma “mancha no campo visual”,perda campimétrica  de aparecimento súbito que pode ser o primeiro sintoma de um AVC.

2- Quais são as queixas mais comuns na visão causada pela modernidade ?


•Sem dúvida nenhuma a astenopia, ou  seja, o aparecimento   de ardência ocular, lacrimejamento, dores de cabeça, embaçamento visual  transitório, piora da visão de longe percebida ao final do dia, na hora de pegar o ônibus ou dirigir na volta para casa.O uso inadequado do aparelho visual nas atividades como fixar monitores por muitas horas, ou alternar a visão do papel para a tela por muito tempo. O uso de celulares, PDAs, que exigem mais da visão de perto, todas as novidades eletrônicas trouxeram agilidadade à comunicação mas não tivemos tempo de nos prepararmos para estas novas exigências diárias.

A musculatura ocular vem sendo cada vez mais exigida. E algumas vezes é preciso nos adequarmos a estas exigências. E nós o fazemos através da ergoftalmologia que nos diz como adequarmos a atividade visual ao nosso ambiente de trabalho para diminuir o desconforto. Dicas como a cada 40 ou 50 minutos olhando a tela do computador afastar os olhos em direção a alguma informação visual à longa distancia (olhar através de uma janela por exemplo). Ou lembrar de piscar com maior freqüência outro exemplo.

Caso não seja suficiente, a fisioterapia visual (ortóptica) está bem indicada e nos ajudará a aliar a qualidade ao conforto visual nas tarefas prolongadas em que a visão de perto está envolvida.

•Outra causa é a diminuição da qualidade da visão devido à prevalência da DMRI,que segundo a OMS e à catarata cada vez mais precoce.

•Também as queixas relacionadas à iatrogenia ocular devida a procedimentos médicos ,além da fotofobia relacionada às doenças oculares (ceratocone,  ceratites, uveites) como efeito colateral de alguns medicamentos, às endocrinopatias (hipertireoidismo), etc

3- Que cuidados e prevenção são necessários para a saúde dos olhos?


Em geral, num organismo equilibrado, a manutenção da saúde se faz através de uma dieta saudável e balanceada, exercícios físicos e uma boa higiene do sono. Ele, organismo foi concebido para manter a homeostasia, em condições normais, segundo as orientações já conhecidas. Quando nos afastamos destas necessidades básicas, ele faz o que pode, mas nem sempre consegue a longo prazo manter este equilíbrio e então surgem os sintomas das doenças. A partir daí o tratamento medicamentoso se faz necessário e os secundarismos deverão ser esperados a curto, médio ou longo prazo. As drogas aumentaram a longevidade, é indiscutível, mas a qualidade de vida não nos acompanhará por todo tempo a mais de vida que conquistamos.

Em relação aos olhos, bàsicamente a tríade catarata, glaucoma e degenera ção macular relacionada à idade são as doenças degenerativas oculares mais comuns na senilidade. A catarata é o cabelo branco do olho. Todos nós teremos! É uma opacificação, mudança de coloração e transparência da lente do olho (cristalino). Mas não significa que será preciso cirurgia em todos os casos. Depende da idade de aparecimento, do tipo de catarata, atividade do indivíduo e basicamente da avaliação do próprio em relação à sua qualidade de vida. Se ela atrapalha o seu dia a dia a catarata deve ser tratada cirùrgicamente. Ou ainda se ela produz secundarismos no olho (como aumento da pressão intra-ocular, p.ex.).

A indicação cirúrgica então deve ser  função do prejuizo à qualidade de vida do individuo e, portanto, depende da capacidade visual referida pelo próprio e não da simples aferição da acuidade visual no consultório do oftalmologista.

No glaucoma, a participação importante da doença vascular vem sendo cada vez mais avaliada e reconhecida. Portanto, a atenção maior e o controle efetivo dos fatores de risco para estas doenças  ( DAC, HAS, DM, apnéia do sono,aterosclerose) tornariam o glaucoma uma doença cada vez menos prevalente. Ou pelo menos o seu controle seria mais fácil e menor o risco de desfechos negativos.

Já na DMRI, o melhor controle da doença vascular, aliado ao aporte de nutrientes específicos (ricos em luteína e zeaxantina), redução do aporte de alimentos com alta carga glicêmica (pró-inflamatórios) e ao uso sistemático de óculos com excelente proteção contra a radiação UV são intervenções que se acredita possam reduzir bastante sua incidência ou mesmo retardar a sua evolução.

Ainda tem dúvidas? Deixe um comentário para que possa ser esclarecido.

Oftalmologia,senilidade e qualidade de vida futura

Por que não devemos procurar o oftalmologista apenas quando existem queixas visuais,ou simplesmente precisamos trocar os oculos…

Envelhecer enxergando bem…esse é o objetivo de todos nós e o  compromisso de todo oftalmologista  com cada individuo sob seus cuidados!

O exame oftalmológico regular é sempre uma necessidade tendo em vista não apenas a avaliação pontual da doença ocular e sim como potencial fator preditivo dessas mesmas doenças.A antecipação  ao adoecimento é e sempre será o desejável na atuação medica.Uma vez que o tratamento medicamentoso vem se mostrando a longo prazo mais iatrogênico do que antes pensado,a prevenção ou mesmo a melhor interpretação da forma de introduzir e conduzir o tratamento necessário são extremamente importantes.

A senilidade significa a desorganização  lenta e gradual dos sistemas bioquímicos e estruturais do nosso organismo, o que leva ao que chamamos degeneração orgânica, com suas manifestações funcionais especificas.Dependendo do órgão ou sistema mais debilitado (genética e/ou ambientalmente predisposto),os sinais surgem mais precocemente neste ou naquele órgão.

No caso especifico dos olhos,mais comumente na senilidade, a catarata,o glaucoma e a degeneração macular relacionada à idade (DMRI) são as manifestações mais comuns e,respectivamente, o cristalino,o nervo óptico e a retina (especificamente sua área mais central,a macula) devem ser alvo de exames periódicos para que se possa desenvolver estratégias no sentido de retardar os desfechos negativos a eles relacionados.

Comentando sobre o glaucoma, embora ainda não saibamos exatamente a causa dessa neuropatia óptica isquêmica progressiva,sabemos que devemos ficar atentos a alguns fatores que podem sinalizar os indivíduos de maior risco.A concomitância de hipertensão arterial sistêmica  de diabetes mellitus,de migranea(enxaqueca –presente ou passada),de hipotensão arterial importante,de síndrome da apneia do sono,alem da hereditariedade positiva são fatores que devem ser levados em consideração na estratificação de risco para a doença. Para conhecer mais a respeito de fatores de risco (individuais e coletivos) para o desenvolvimento de glaucoma e avaliar seu escore em relação à doença, veja o questionario no link abaixo:

http://willsglaucoma.org/cgi-script/csArticles/articles/000000/000074.htm

Outros fatores são na verdade sinais clínicos como o valor da pressão intra-ocular,sempre relacionada à espessura corneana e à avaliação da aparência do disco óptico com seus sinais localizados de perda de fibras nervosas (modificação da relação que existe entre o diâmetro do disco óptico e da sua escavação,alem da alteração do padrão de espessura dos bordos inferior,superior,nasal e temporal desse disco: a essa relação damos o nome de padrão ISNT).

Quanto à DMRI, sabemos que o fator exposição à radiação UV (tanto no verão quanto no inverno pela agravante ambiental a ela relacionada (buraco na camada de ozonio)) alem da perda progressiva dos pigmentos maculares ( luteina e a zeaxantina) devido ao envelhecimento, vem tornando essa patologia cada vez mais prevalente entre nós.

O que devemos fazer é instituir a alimentação funcional (e num segundo momento e sob supervisão medica, a suplementação) para aumentar os niveis oculares desses bioflavonoides além de utilizarmos sempre oculos com proteção UV plena.Alem disso nos conscientizarmos de que o estilo de vida atual gera um estado pró-inflamatorio em nosso organismo acelerando a degeneração dos tecidos e orgaos. O contraponto a essa situação é o aumento da atividade fisica e a adoção de uma dieta mais rica em alimentos que alem de não estimularem a sintese de substancias favorecedoras de inflamação atuam em direção oposta.

O combate ao sedentarismo e a adoção de uma dieta mais saudavel contribuem tambem para reduzir as doenças vasculares como hipertensão arterial e diabetes mellitus, que atuam como fatores de risco para o aumento da incidencia e da gravidade das doenças oculares da senilidade.

A catarata,ou perda de transparencia do cristalino,faz parte do processo natural e gradual de envelhecimento do olho. Todos,sem exceção, mostramos esse tipo de evolução,diferindo apenas em intensidade (maior ou menor)  e tempo (mais acelerado ou bem mais lento). Quando essa perda de transparencia chega a interferir na qualidade de vida do individuo há necessidade de cirurgia. Por outro lado, muitos individuos podem chegar a idades bem avançadas sem necessidade de intervenção cirurgica,e com acuidade visual compativel com boa qualidade de vida. Aqui tambem a proteção UV atraves de oculos solares de boa qualidade, o aumento de aporte de carotenoides (zeaxantina e luteina) e a manutenção da saude (evitando uso frequente de medicamentos  e com isso possiveis iatrogenias) ajudam a prolongar a vida útil do cristalino e,mais uma vez, melhorar a qualidade de vida na senilidade.

Essa avaliação periódica é importante para a estratificação de risco de cada individuo. Cada um de nós pode ter uma qualidade de vida maior se nos anteciparmos a esses eventos e cada vez mais deixarmos de identificar as doenças apenas quando elas já necessitam tratamento.O que buscamos hoje é o desenvolvimento de estratégias que ajudem a prolongar o bem estar do individuo durante a senescencia.

OLHO NO OLHO! veja … o que nós vemos!

exame do fundo de olho

Mostra como nós,oftalmologistas, vemos as camadas mais internas do seu olho (a retina,coroide e os vasos sanguineos). Veja o que nós vemos: a área branca com vasos partindo do seu centro é o nervo óptico.A área mais escura é a mácula e,nesse caso,em torno dela,as minusculas manchas branco-amareladas são as drusas (que podem ser precursoras da degeneração da mácula). Um exame simples,não invasivo e que pode nos trazer tanta informação!

E nós conseguimos ver com muito mais precisão do que voce está vendo aí no video. A imagem é muito mais nitida ao vivo e a cores do que você vê na gravação.

Os exames endoscópicos tambem nos permitem esse tipo de olhar.Mas necessitam preparação prévia, muitas vezes desagradáveis,e vêm tão somente o tecido/orgão que se propõem examinar.Com a fundoscopia não.Como vemos a circulação terminal (que é parametro para avaliação da circulação arteriolo-venular de qualquer outro órgão do corpo), podemos inferir como deverá estar se processando a oxigenação dos outros tecidos nobres como coração,rins e cerebro.

Viu?

O que voce achou?

A possibilidade de ver o organismo atraves dessa verdadeira janela que se abre para nós, oftalmologistas,num exame que faz parte da rotina de consultorio é uma oportunidade única. Dificilmente ,durante um bom tempo ainda, teremos acesso tão fácil e não invasivo a qualquer outro orgão no corpo humano! E a oportunidade de avaliar a saude de um  individuo atraves desse orificio tão pequeno que é a pupila,é  imperdível! Nunca deixo de me empolgar com a idéia de poder ajudar a mudar a qualidade de vida futura de alguem observando o que o fundo de olho me diz a respeito da hipertensão arterial,do diabetes mellitus,dos efeitos colaterais que algumas drogas usadas no combate a certas doenças sistemicas podem gerar nos olhos.

O exame fundoscópico auxilia no estadiamento dessas doenças,ajudando o cardiologista ,o clinico geral e o endocrinologista a melhor controlar essas patologias, no sentido de evitar  lesões nos órgãos alvo (coração,rins e cerebro), que levam o paciente a desfechos negativos.

Consulte seu oftalmologista!

Não espere aparecer algum sintoma para procurá-lo.Prevenir é sempre o melhor remédio!

O glaucoma e a importancia do seu controle!

GLAUCOMA …causa evitável de cegueira!

Video que mostra uma simulação da perda visual que pode ocorrer no glaucoma não tratado ou refratário ao tratamento.Mostra a importancia da monitorização da pressão intra-ocular em individuos acima de 50 anos, alem de orientar sobre os grupos de risco da doença.

Apesar de ser um video institucional,é bem feito, simula a perda visual lenta e progressiva que a doença não tratada (ou refrataria ao tratamento) pode acarretar ao individuo portador. Explica como acontece o aumento de pressão dentro dos olhos, enumera todos os fatores de risco,a forma de fazer o diagnostico e a maneira correta de pingar colirios nos olhos.

É interessante rever esses dados e lembrar que é uma doença que pode levar à cegueira e,  na maioria das vezes, é de fácil controle, apenas com medicação tópica (colirios).É uma doença tratável,como a hipertensão arterial,por exemplo. Mas continua sendo uma das causas importantes de perda visual irreversivel, por falta de diagnostico ou falta de adesão ao tratamento. Infelizmente…

Assista!

A hemorragia na borda do disco óptico  sinaliza a probabilidade de doença glaucomatosa ou ,se a doença já existia e estava sendo tratada, que continua evoluindo,apesar do tratamento.Alerta para a necessidade de nova estrategia terapeutica.

À direita o disco óptico mostra menor agressão do que à esquerda, onde a escavação é maior.

FIQUE DE OLHO!

Na sua saúde e na saúde dos seus olhos!

“Estima-se que, em 2030,duas vezes mais pessoas perderão a visão,em comparação com os numeros atuais”

Fonte: “Guia prático para proteger sua visão” -Harvard Medical School (Editora Campus,2002)

E esse comentario foi feito num livro publicado em 2002!

Voce já sabia? O que está fazendo a respeito?

Já procurou ver se você é (mais do que a média da população) candidato a alguma doença ocular degenerativa como o glaucoma,a DMRI ou a catarata (antes dos 60 anos,porque depois dessa idade todos nós temos um alguma alteração da transparencia do cristalino)?Procure saber se na sua familia hà casos dessas doenças. A genética é um dos fatores em que podemos nos  basear para fazer uma  analise das probabilidades. Se a resposta for sim, o que está esperando para adotar um estilo de vida mais saudável em vez de apenas ficar esperando para ver o que acontece? Claro que é apenas um dos fatores…mas vivemos todos num meio ambiente “doente”,somos expostos diariamente a toxinas diversas,temos uma epidemia de cancer em evolução (o cancer tambem é considerado uma doença degenerativa,porque os riscos  de desenvolver a doença aumentam apos os 60 anos de idade e,segundo Dr. David Servant-Schreiber, todos temos um cancer dormindo dentro de nós, esperando a oportunidade para crescer e aparecer!).

A longevidade aumenta a passos largos (a medicina investe pesado em tecnologia para tratamento das doenças que surgem) mas, como será a qualidade de vida desses idosos,boa?  Ou ainda, daqui a uns poucos anos, se não fizermos nenhuma modificação no nosso estilo de vida  (que já sabemos acelera e aumenta  e muito o aparecimento e a gravidade das doenças degenerativas cronicas). Como estaremos?

E em relação aos olhos,será que essa “previsão” (de Harvard) se cumprirá?

Um certo tipo de antioxidantes,os carotenoides, exerce papel importante na manutenção da qualidade da visão.Entre eles,a luteina e a zeaxantina (relacionadas ao betacaroteno) ajudam a proteger a saúde ocular. Estão presentes tanto na retina quanto no cristalino,em grandes quantidades.

Recomenda-se a ingestão de cinco porções de frutas e hortaliças por dia para redução do risco de cancer e o mesmo serve para as doenças degenerativas oculares.Como todos já devem saber,embora poucos de nós faça uso correto das informações, uma porção equivale a uma fruta média ou meia xicara de frutas pequenas ou de uma fruta picada;3/4 de xicara de suco preparado com 100% da fruta,um quarto de xicara de frutas secas ou 1/4 de xicara de hortaliças cruas (preferencialmente) ou cozidas.

Maior quantidade de luteina e zeaxantina pode ser obtida na  couve,espinafre,milho,couve-de-bruxelas,cenoura (crua ou “al dente”),brocolis,alface romana,ervilha,vagem,aqui,abobrinha alem da gema do ovo.Como todos os carotenoides a  biodisponibilidade  (“absorção”)  é maior se houver ingestão concomitante de gordura (“boa”,tipo insaturada,claro, como o azeite de oliva extra-virgem prensado a frio, o abacate e peixe,na salada “..humm! delicia!).

No mais, o de sempre tambem: exercicios aerobicos quatro vezes por semana,água (2 litros por dia) e proteção para os olhos (contra radiação UV),usando os oculos de filtro solar sempre!

E aí…voce já está no bom caminho..ou está esperando pra ver se com voce nada acontece,mesmo  continuando a agredir seu organismo como fazemos hoje,o tempo inteiro?

Eu estou fazendo pequenas mudanças,todos os dias, como nos programas de dependentes quimicos e outros mais do genero. Eles costumam viver um dia de cada vez…ou seja consideram a máxima ” só por hoje”. No nosso caso,por exemplo seria…só por hoje comerei frutas e verduras e nada de gordura saturada! Amanhã é outro dia…e começa tudo novamente e aí voce tenta novamente fazer tudo como deve ser …e quando menos esperar..só sairá da rotina muito de vez em quando.Então terá mudado seu habito alimentar e provavelmente muitos outros hábitos saudáveis serão agregados.

Outro dia li num blog sobre as dificuldades de tomar atitudes pró-ativas.Para uns seria mais dificil do que para outros.Concordamos ela (a autora) e eu,que isso não justifica a inercia! Ela fala de forma bastante interessante a respeito do tema…linguagem fácil,clara e objetiva.

Vale a pena conferir! www.kikalourenço.wordpress.com

Ultima observação: esse livro,“Guia Prático para proteger a sua visão” da Harvard Medical School,pela Editora Campus,2002, apesar de referendado por uma escola médica de peso, não foi best-seller,não conheço nenhum oftalmologista que tenha comentado sobre ele e, se a midia, na época ,valorizou as informações importantes contidas ali (escrito para leigos!)…não chegou ao meu conhecimento! E provavelmente nem ao seu…

A Medicina pode (e deve) ser uma medicina voltada para a promoção de saúde e não apenas para o tratamento da doença. Sinto muito se sou repetitiva. Mas nunca é demais insistir…quem sabe o cenário muda mais rápido.Quem sabe voce,usuário do sistema de saude, muda seu perfil e adota uma postura mais ativa! Então nós medicos teremos, necessariamente, que mudar nossa postura também e nos tornarmos facilitadores de informação para prevenção das doenças,além de oferecer o tratamento para elas.

Glaucoma e doença vascular:qual a relação?

 

 

 

O que há de novo sobre glaucoma.

A definição de glaucoma mais aceita hoje é de uma neuropatia óptica isquêmica cronica progressiva.Trocando em miúdos,seria o sofrimento do nervo óptico por conta de uma diminuição de aporte sanguineo.A redução do fluxo de sangue no nervo pode ser explicada ou por um aumento na resistência à entrada de sangue, através do aumento da pressão intra-ocular ou essa pressão está normal mas a pressão de pulso ( ou seja a força com que o sangue é bombeado para o olho ) é baixa e a irrigação do nervo é deficiente.Quando as duas causas estão presentes, mais difícil se torna o tratamento desse paciente.

Os indivíduos que são hipotensos arteriais  e/ou  que têm migranea (enxaqueca), além dos hipertensoas arteriais,são indivíduos que apresentam maior dificuldade em controlar a doença glaucomatosa.Nesses pacientes,em que existe uma maior dificuldade na regulação vascular,a monitorização da doença glaucomatosa deve ser mais intensa (maior numero de  visitas oftalmológicas e rígida avaliação da variação da pressão intra-ocular diuturna e da variação da pressão arterial à noite,através da monitorização ambulatorial da pressão arterial (M.A.P.A.)).

A maioria dos pacientes pensa que glaucoma é o aumento da pressão intra-ocular pura e simplesmente.Seria muito bom se fosse apenas isso.Como em todas as áreas do conhecimento médico,cada vez mais surgem dados que nos lembram que nenhum órgão está isolado do organismo.Tudo que acontece localmente tem repercussão sistêmica, ou seja no todo, e vice-versa. Então se antes pensávamos no glaucoma como uma doença do olho hoje podemos dizer que os sinais e  sintomas da doença são oculares porém muito provavelmente a falta de regulação vascular (que acontece em todas as áreas desse organismo e não só no olho) é a responsável pelo aparecimento da doença naquele individuo.

São muitos os fatores que levam às doenças.Senão,vamos raciocinar: porque nem todos os enxaquecosos tem glaucoma? O mesmo raciocínio vale para os hipertensos arteriais.A resposta é simples: A doença é fruto de um somatório de fatores  como predisposição familiar (herança genética),disfunção vascular,uso de medicações para outras patologias que podem interferir com o fluxo sanguineo para o olho,etc Existem fatores de proteção  que podem ser agregados, quando se conhece o terreno biologico do individuo,na expectativa de que ele não venha a desenvolver a doença glaucomatosa e ,na minha opinião,podem desde já ser utilizados a nosso favor .

Mais estudos são necessários para comprovar essa possibilidade de intervenção preventiva.Mas, enquanto  isso não acontece, por que não fazer uma seleção de pacientes que podem vir a se tornar glaucomatosos com a idade e propor mudanças de hábitos alimentares (reduzir ou eliminar fatores de agressão vascular) e estilo de vida (“malhar” a rede vascular para melhorar o fluxo sanguineo e manter o bom aporte de oxigênio aos tecidos,que costuma diminuir com a idade e mais ainda naqueles que mostram um padrão de disregulação vascular (hipertensos,migranosos e pacientes com tendências a espasmos vasculares como os anginosos)).

Enfim,enquanto não temos todas as respostas,vamos tentar melhorar a qualidade de vida na senilidade, uma vez que estamos mais longevos. Vamos  mudar nossos hábitos enquanto ainda não estamos velhos ou doentes;vamos identificar nossos “terrenos biológicos” (genética), conhecer mais o que já existe em termos de reconhecimento de possíveis fatores negativos na gênese de doenças degenerativas e tentar fazer um trabalho preventivo.

Se a doença acontecer, pelo menos teremos maior possibilidade de controle  terapêutico do que se deixarmos toda a gama de fatores negativos somarem de forma a favorecer um desfecho negativo.No caso do olho,levar a uma redução importante da visão periférica (ou mesmo perda central),diminuindo muito a qualidade de vida.

Consulte o oftalmologista periodicamente,mantenha sua saúde vascular,procure não desenvolver as doenças  evitáveis através de maior controle nutricional e exercicios físicos (diabetes mellitus e hipertensão arterial)…e terá feito a sua parte para tentar garantir uma maior qualidade de vida à sua longevidade.

É o que podemos e devemos fazer!

As imagens foram importadas do site http://www.oftalmonews.com.br

DMRI (degeneração macular relacionada à idade)

DMRI

Na retina existem naturalmente dois pigmentos que ajudam a mantê-la saudável: a zeaxantina e a luteina. A importancia deles reside no fato de atuarem como filtros da radiação ultra-violeta (UV),tão nociva à retina.

Após os 50 anos, a quantidade desses pigmentos vai diminuindo consideravelmente.Faz parte da senilidade: a degeneração dos órgãos de todo o organismo e a redução da capacidade de oxigenação dos tecidos em relação ao aporte de sangue e oxigenio das fases anteriores (adolescencia e fase adulta).Na retina,essa baixa oxigenação,alem da diminuição dos pigmentos protetores,favorece o aparecimento da degeneração macular relacionada à idade.Que é fruto então não somente da diminuição dos fatores protetores da macula (pigmentos e boa oxigenação) como da inflamação local fazendo com que progressivamente aumente o dano macular.Existem dois tipos de DMRI: a forma seca e a umida ou exsudativa.A primeira é mais benigna,de evolução bem mais lenta,na maioria das vezes.

Atualmente fala-se muito de inflamação.Em todas as especialidades médicas o grande vilão, sabe-se hoje,é o estado de inflamação cronica a que os tecidos estão submetidos.Uma das causas é o atual estilo de vida e os erros alimentares caracteristicos das ultimas decadas, favorecendo o aparecimento desse estado pró-inflamatorio do organismo.Que, em ultima analise, acelera o envelhecimento e aumenta a incidencia das doenças cronicas degenerativas.

Trocando em miudos: o organismo produz várias substancias necessárias ao seu perfeito funcionamento.Mas existe um equilibrio nessa produção.Quando em excesso,algumas substancias passam a funcionar de maneira indesejavel dentro do organismo.Se essas substancias passam a existir em quantidades bem maiores do que o usual, os nossos orgãos e sistemas,atraves de reações bioquimicas,modificam as rotas de aproveitamento da substancia e os produtos originados dessas reações levam à manutenção de um estado pró-inflamatorio.

Então,a inflamação não está associada apenas a sintomas como dor,vermelhidão e calor (como nos abscessos,lembra? ou no reumatismo…)

Por exemplo,esse estado pró-inflamatorio é causa primaria da arterioloesclerose,e responsavel como já foi dito, pela maioria das doenças degenerativas cronicas.A degeneração macular relacionada à idade (DMRI)é uma delas.

Sim,todas essas doenças degenerativas são multifatoriais.Esse estado pró-inflamatorio é apenas um deles…mas é um fator modificável por estrategias alimentares e de atividade fisica.

Vamos lá:

os vilões: aspartame,glutamato monossodico ( por acelerar os processos degenerativos), gorduras trans( tudo que nós aprendemos a gostar,não é mesmo?   Alem disso, o grande problema atual,  a sindrome metabolica, com seu aumento de resistencia à insulina,sendo um fator de alto risco porque piora muito o estado pró-inflamatorio do organismo. Alimentos de carga glicemica elevada como barras de cereais, refrigerantes ( pior ainda se forem “diet”, por causa do aspartame), banana e ervilhas devem ser evitados nessa situação.

No interior do olho existe uma substancia que é fundamental na manutenção da higidez (bom funcionamento) das estuturas oculares: o glutation.Essa substancia diminui com a idade e mais ainda na presença de substancias que caracterizam o estado pró-inflamatorio.Essa seria uma das causas das doenças degenerativas oculares (catarata,DMRI). Então a nutrição funcional nesse caso está formalmente indicada.

Alimentação funcional.

O que é isso? Bom,se está faltando glutation,vamos aumentar a ingesta de alimentos que são fontes de glutation como o abacate,aspargos,melão,melancia e alguns peixes como a cavala e o cação.Outro nutriente que pode ajudar é a salsa (ela estimula o organismo a produzir o glutation).Vamos tomar muito suco verde,com bastante salsa? A cebola (quercetina),o suco de uva (resveratrol),a couve,o espinafre,a gema de ovo e o milho (luteina) são outros exemplos de alimentos funcionais. A luteina mais especificamente para o olho,na DMRI.

Claro que essa estrategia alimentar deve estar presente bem antes do organismo apresentar sinais degenerativos.Principalmente em pessoas que tem familiares com DMRI com baixa visual importante ou naqueles em que o oftalmologista detectou, em idade precoce, sinais  que predispõem o  individuo  a  esse tipo de degeneração. A saúde se constroi ao longo do tempo!Não que toda essa orientação não seja útil a quem já tem o diagnóstico de DMRI. Porem só essa mudança de hábitos não é suficiente para o controle da doença,embora necessária!

Alem dessa abordagem nutricional,existe a suplementação mais agressiva,que o médico biomolecular pode ajudar a fazer e que está indicada em alguns casos. O consenso de suplementação, adotado pelos oftalmologistas,baseados no estudo AREDS ( que avaliou a doença e a influencia de algumas vitaminas e minerais na prevenção e no tratamento da maioria dos casos de DMRI seca):

vitamina C 500mg

vitamina E 400UI

zinco (oxido de) 80mg

cobre (oxido de) 2mg

betacaroteno 15mg

Segundo estudos isso representaria cerca de 5 vezes mais de vitamina C (se considerarmos a dieta como unica fonte),13 vezes mais do que a dose diaria recomendada (RDA) para vitamina E e 5 vezes (RDA) a de zinco.A luteina tambem é suplementada: ou agregada a  formulaçoes que contem as vitaminas e minerais acima ou isolada,mas utilizada simultaneamente.

Fumantes e ex-fumantes não devem ser suplementados com betacaroteno,uma vez que algumas pesquisas mostram relação da suplementação dessa substancia nesses pacientes com o aumento de incidencia de cancer de pulmão.

Costumo dizer aos pacientes que há 30 anos atrás a incidencia dessa doença (que era chamada de degeneração macular senil) era algo em torno de 10 vezes menos do que se vê hoje. Não porque hoje se faz o diagnostico com mais facilidade por causa da tecnologia de que dispomos.Do primeiro sintoma(que leva o paciente ao medico) ao desfecho desfavoravel,com baixa visual intensa,provavelmente a evolução era mais lenta, além é claro do fato de que eramos menos longevos.Hoje é dificil alguem não conhecer um amigo ou conhecido que tenha esse diagnostico.Mais ainda (o que é pior),dificil não ter ouvido falar dessa doença como a responsável pela perda progressiva da visão de pessoa de seu convivio.

Para os médicos biomoleculares,esse estado pró-inflamatorio que acelerou a degeneração organica da especie é basicamente fruto de escolhas infelizes quanto ao estilo de vida:alimentação ruim (troca do “slow food” pelo “fastfood”)o sedentarismo,o estresse,alem da poluição ambiental externa e interna (nosso organismo submetido a agentes toxicos de varias origens).

Vamos modificar as estatisticas futuras fazendo a nossa parte?

Oculos com proteção UV (solares),procurando preferir sempre as cores mais proximas do marron (650 nm) evitando tons azul-esverdeados que estariam mais proximos do espectro da radiação UV . Não usar somente quando se vai à praia,como alguns fazem.Dirigindo,andando na rua,num shopping aberto,no parque. Num pais tropical como o nosso,o tempo todo estamos em contato com a radiação UV. As lentes fotossensiveis são uma excelente opção!

Alem disso, mudar a alimentação, fazer mais exercicios fisicos,relaxar (existem varias maneiras, para todos os gostos). E se for paciente de risco ( mulher com mais de 45 anos,branca,fumante,olhos claros, portadora de doença cardiovascular (hipertensão arterial ou doença arterial coronariana p.ex. ) ou historia familiar de DMRI), fazer controle oftalmologico rigido!

E não se esqueça de procurar um nutricionista funcional.Ele vai ajudar voce a ajustar sua alimentação de acordo com as suas necessidades e seus desvios metabolicos (as sugestões acima valem mas não devem ser a única forma de voce se cuidar porque cada um de nós é unico,sob varios pontos de vista,inclusive o metabolico.Alem disso cada um tem suas disfunções organicas e manejar todas ao mesmo tempo é mais dificil do que voce pensa!

Quer um exemplo? Todos sabem que a beringela auxilia muito na redução do colesterol mas…se voce além da dislipidemia tiver doença reumática…fique longe dela! Alguns estudos apontam a relação entre a piora das crises reumaticas e o consumo de beringela.Claro que não estamos falando de consumo esporádico…

São muitas variáveis.O ideal é avaliar o individuo integralmente e propor estrategias voltadas para a prevenção, avaliadas com criterio, para contribuir na melhora do todo e não apenas de um órgão.

As imagens que ilustram esse post foram importadas do site  www.oftalmonews.com.br

 

 

Leia mais sobre DMRI no link

https://elizabethnavarrete.com/2012/04/22/a-suplementacao-na-dmri-no-tratamento-ou-tambem-como-prevencao-da-doenca/